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Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Divagações semânticas sobre os bolhas



Meu pai falava que algumas pessoas eram bolhas, ou, para ser exato, bolhas d’água. Ele se referia a alguns jovens sem assunto, supostamente sem futuro, meio desligados, mansos demais e com pouca iniciativa que às vezes cruzavam nossas vidas não tão diferentes.

Depois que ele ajudou a popularizar a expressão, surgiram alguns significados diferentes: bolha seria chato, inoportuno, pacato ao extremo, encaramujado ou mesmo atrevido.

Por isso, quando alguém nos chama de bolha, embora a gente não saiba com precisão milimétrica que bicho é esse, boa coisa não é. Talvez seja melhor ser chamado de rolha (= gordo, em Pitangui).

O que me surpreendeu foi o fato de meu vetusto e espandongado dicionário Aurélio – com quase trinta anos de estrada – já haver registrado a gíria, definindo bolha como “pessoa amolante, enfadonha, boiota, bolhudo”. Uma espécie de Faustão, Ratinho, Cazé ou Marcos Mion. Esse pessoal do Pânico na TV, por exemplo, embora eventualmente possa ter alguma graça, é a concentração maior de bolhura já produzida pelo showbizz. Isso significa haver, no inconsciente coletivo, uma certa admiração mórbida pelos bolhas da mídia, alguns deles com salários estratosféricos.

Mas o verdadeiro bolha, para mim, é quem consegue ser mais desanimado que eu: um(a) camarada simpático e interessante chama o sujeito – ou a sujeita – para um jantar no Baby Beef seguido de um show da Marisa Monte, com todas as despesas pagas, e ele (ou ela) diz: – Vamos deixar pra outro dia. Esquece. O autêntico bolha, na acepção deste cronista, está sempre deixando tudo pra outro dia, inclusive o seu tratamento.

Voltando ao sentido do dicionário, um repórter do CQC, da Bandeirantes, foi "enquadrado" como bolha por Hector Babenco. O cineasta argentino, embora também com aspecto bolhal, detonou Oscar Filho e ainda lhe deu uma violenta revistada na cara (veja o vídeo
com um pouco de boa-vontade, vai achá-lo mais interessante que os filmes do gringo naturalizado brasileiro).

Talvez seja isso: o bolha tipo 3 é mal-humorado; e o bolha tipo 2 é metido a engraçadinho. Quando os dois se encontram, alguma das duas bolhas
ou ambas estoura(m). Não rola a menor química.

Quanto aos bolhas tipo 1, aqueles com menor chance de cura, são os do início do texto. Embora sua moléstia tenha um prognóstico ruim, não mata nem engorda. São assim como unhas encravadas: incomodam um pouco mas surgem para quase todo mundo algumas vezes na vida.

Finalizo concluindo que os da TV (tipo 2) são os piores: mais frequentes, carecem totalmente de simpatia, ganham para encher a paciência. Trata-se dos famigerados pelassacos, cuja maior contribuição para a humanidade é falar coisas do tipo "pora, meu" ou afins. E o pior: mesmo mudando de canal, principalmente se for domingo, a chance de alívio é mínima. Mas não estamos diante de um mal necessário. Tecla power neles!

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