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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sábado, 23 de janeiro de 2010

Sotaque, coincidências e pequenez do mundo


Desde a barriga da mamãe sabemos ser muito mais fácil compreender a fala de uma madrilenha do que a pronúncia de uma jovem portuguesa. Fiz as comparações no feminino porque uma madrilenha falando, com ceceo e tudo, é tudo.

A rebelde lisboeta aparecerá doravante: lá se vão mais de vinte anos e este degas foi à Flórida sozinho, só na base do “the book is on the table”. De lá para Nova York, onde continua esta historinha de turismo, sotaque e coincidências.

O certo é que, estando em Miami Beach, num hotelzinho meia-bomba chamado Prince Michael – indicado por um então colega do Banco do Brasil de Miami que manjou minha cara de pobre –, comprei uma excursão rodoviária para o Magic Kingdom e o Epcot Center.

Quando entro no ônibus, no dia seguinte ao fechamento do simplório pacote, deparo com um grupo de uma meia dúzia de agradáveis portugueses, com quem me enturmei e fiquei quase o tempo todo. Minha principal companhia foi uma garota descolada cujo nome me pareceu ser Crisa, a viajar com irmãos e tios.

No primeiro dia, conformei-me com a suposta identificação, conquanto me parecesse estranha. No segundo, perguntei de novo. E, na minha cabeça, não saiu muito daquilo. No terceiro, já meio cabreiro com o tanto de coisas que não entendia, recorri a um dos tios, e ele quase soletrou: Ma-ria Trisa, ou seja, Maria Teresa. Repeti Maria Teresa, numa velocidade equivalente a 1/3 daquela em que ele falou e a 1/10 daquela em que a garota sapecava sua graça. E eles aprovaram minha tradução. Portanto, era mesmo Maria Teresa.

Um dos tios, se não me engano, chamava-se Paulo. Justamente o meu intérprete e o mais simpático da turma. Disse-me que iriam, de Orlando, para Nova York, um dia depois da data em que eu também viajaria para lá.

Eu comprara o trecho aéreo Orlando – Nova York ainda no Brasil, pela Eastern Airlines, hoje tão falida quanto meu inglês da época. Após chegar avulso à Big Apple, fiquei (no bom sentido) com Marcelo, um amigo e vizinho da Rua Sílvio Romero, numa espelunca superbem localizada em Manhattan.

E não é que... (rufem os tambores...) um dia, andando com Marcelo pela Quinta Avenida, avisto, reconheço e cumprimento Paulo, tio de Crisa, digo, de Maria Teresa. Experimentei, a oito mil quilômetros de distância, como o mundo é pequeno. E, se o planeta é diminuto, o que dizer de Portugal, cujo povo, mesmo encurtando as palavras, ajudou-o demais a ser vasto. Vasto, aliás, como a área construída das Torres Gêmeas em que subi, de onde trouxe uma lembrança personalizada para minha mãe, que a "tafuiou" não sei onde. Hoje seria uma relíquia.

Aproveito ser quase inacreditável o narrado (re)encontro, embora verdadeiro, para registrar um anterior: um adolescente argentino conhecido por mim e por Carlos Alberto, meu primo, em 1986 em Recife foi revisto por este desconhecedor do jogo de truco no ano seguinte, no aeroporto de Foz do Iguaçu. Essa até eu mesmo tenho dificuldade de engolir. Mas pra quem já deglutiu Zagallo e Fernando Collor, com uns dois Sonrisal, minha inverossímil realidade pode até descer bem.

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