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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Admitem-se amigos


Admitem-se amigos. Poucos, é verdade, para não sobrecarregar a folha de sentimento. Analisam-se currículos. A experiência – por exemplo, o número de pores-do-sol apreciados – vale mais que a vida acadêmica. A lealdade, a humildade, a simpatia e o bom humor contam mais que as aparências, embora eu também goste de correr o risco de ser enganado e encantado por elas.

Admitem-se amigos, não cogumelos. Tem que ter lido O pequeno príncipe e gostar de Mamma mia! e Notting Hill. E saber pelo menos uma meia dúzia de poemas de cor. Com interpretação e tudo. Pode até torcer para o Galo (ninguém é perfeito), mas tem que torcer principalmente por mim. Darei a reciprocidade.

Admitem-se amigos que sintam mais falta de uma boa conversa que da pintura impecável do carro quando zero. Amigos que possam bater à minha porta a qualquer hora e, se me encontrarem meio amarrotado, não tirem uma foto e ponham no Orkut.

Admitem-se amigos. Retribuição a combinar. Possibilidade de horas extras. Todos os dias, vale-afeição. Não há seguro-saúde, mas o consumo de remédios
por certo diminuirá. Não há risco de rompimento unilateral do contrato de carinho, a não ser por justíssima causa, tipo assim virar amigo da onça.

Admitem-se amigos. Uma condição
sine qua non para a admissão é estarem em busca de relevância para a existência, principalmente dos outros. Outra condição é gostar de mim, mesmo com outros muito melhores por aí.

Admitem-se amigos. De preferência, sentimentais, quase ao ponto de apreciar as músicas do Fábio Jr. Mas também racionais, questionadores, frios e calculistas, daqueles que sabem de cor a lista dos números primos pelo menos de zero a cem e não entendem o que faz Bial no Big Brother. E mais: ficam imaginando o bem que se poderia fazer com os bilhões torrados em vão pelo Senado brasileiro todo ano.

Os interessados não se esqueçam de elencar, em vez das referências, os filmes preferidos, os livros por que se apaixonaram, as músicas de estimação, as crenças e sonhos para a humanidade, as grandes personalidades da história e duas ou três viagens inesquecíveis. É perfeitamente perdoável o deslize de folhear
Caras na antessala do dentista ou do médico, no entanto sem torcer para a consulta atrasar.

Por outro lado, elimina-se o(a) candidato(a) que omitir o endereço completo e a sugestão da bebida do primeiro encontro. Pode ser de suco de cupuaçu a vinho verde, não passando por Guaraná Del Rey. E nada de CEP, por enquanto: quero encontrar os “desempregados” e fazer,
face to face, heart to heart, a primeira entrevista de uma série que espero interminável.

P.S.: Não se esqueçam de colocar no currículo o número de minutos que consigam ficar em silêncio, quando este for a melhor demonstração de amor.

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