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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sábado, 8 de maio de 2010

A Europa distante


Nossa escola pública de educação básica foi de fato "inventada" há uns 20 anos. Era apenas estatal, financiada pela sociedade, mas promovia a exclusão dos mais carentes. Estes, quando entravam, pouco permaneciam, por dificuldades diversas. Saíam com o estigma do fracasso.

Já na Europa, a escola gratuita de qualidade é, tradicionalmente, política pública para, inclusive, diminuir desigualdades. Lá, a opinião pública costuma escandalizar-se se um alto gestor do ensino governamental não confia seus filhos ao sistema por ele comandado.

Também no Velho Mundo há conflitos, preconceitos, violência e as limitações pedagógicas da pós-modernidade. Isso foi tema de Entre os muros da escola, filme francês de Laurent Cantet estrelado por um professor da periferia parisiense, François Bégaudeau.

Voltando ao Brasil, quando os mais carentes entraram para ficar na escola estatal, com incentivos financeiros, ela ficou realmente pública. Mas os de melhor condição bateram em retirada: a mistura de diferentes nunca foi bem vista por nossa pequena burguesia. A qualidade desabou. Nos anos 90, o desafio passou a ser abrir vagas: evitar as reiteradas reprovações para atender aos ex-excluídos.

Surgiram aventuras do tipo Escola Plural em Belo Horizonte, município com educadores qualificados e com atuação também em escolas de elite. Os resultados foram pífios se comparados aos que a comunidade obteve com a mesma categoria há algumas décadas.

Um dos entraves está no fato de que os pais mais pobres - em geral, com baixa instrução - têm poucas condições de auxiliar no estudo de seus filhos. Além disso, esses, muitas vezes, são vítimas das más influências da criminalidade e têm necessidade precoce de trabalhar.

Do outro lado está (ou estava) o segmento social médio e superior. De elevadas expectativas em relação aos filhos, quase sempre reprova, preconceituosamente, a convivência com os menos afortunados. Com uma espécie de "plano de saúde educacional", migrou para as instituições particulares. Ainda que não colham um ensino significativamente melhor, os remediados pagam caro para livrar-se de um problema social.

Esse "salve-se quem puder" colocou uma das maiores economias mundiais num vergonhoso 88º lugar no último Índice de Desenvolvimento da Educação divulgado pela Unesco, que tem várias nações europeias nas melhores colocações.

No mundo da tecnologia, os primeiros aviões eram carroças voadoras em relação aos de hoje. Ao contrário da indústria aeronáutica, nossa educação pública de base, de processo ainda mais complexo, pouco ou nada evoluiu, por não ter mais a ver com a elite. Não é um espaço de cidadania, inclusão, interação social e saber solidário. Permanece com seus muros, insucessos, seus profissionais subempregados e no limite do estresse.

A Europa continua distante. E a maioria de nós parece não estar nem aí.

Artigo publicado no jornal O TEMPO de 08.05.2010:

http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=1654&IdCanal=2&IdSubCanal=&IdNoticia=140466&IdTipoNoticia=1

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