Sempre quis ser professor. Em princípio, de Geografia. Eu via mapas até na hora de namorar, achava o máximo o fato de existirem fusos horários. Cheguei a decorar a renda per capita de dezenas de países. Isso, no entanto, somado ao fato de eu saber o nome da capital de Honduras, não tem a menor relevância. Mesmo assim continuo comprando o Almanaque Abril.
No final, vim a ser professor de Português e especialista em Conhecimentos Gerais, por culpa do Almanaque. No Eleonora. E nele - a gente trata assim, no masculino, deixando subentendida a palavra grupo ou ginásio -, um dos primeiros textos que levei a meus alunos foi “Das saudades que não tenho”, de Bartolomeu Campos Queirós. É bonito e introduzido assim: “Nasci com 57 anos”. Quase fui apedrejado.
Comecei, mesmo assim, a morrer de amores pela profissão e, ao mesmo tempo, a me decepcionar. Todo professor pensa ter o poder de mudar o mundo. Mas tem dia em que há dificuldade até para fazer chamada.
Descobri, com o tempo, que grande parte dos alunos de baixa renda aprendem pouco ou quase não aprendem. Também pudera: ensino fundamental noturno e jabuticaba só devem existir no Brasil.
São boa gente, apesar de alguns serem mais chatos que aula de Português. No Eleonora não há violência significativa, não há o domínio do tráfico de drogas: apesar de o baseado rolar de vez em quando, há um relativo respeito pelos professores.
No Eleonora, recebo ajuda, carinho e compreensão de ótimos colegas. Alguns são grandes incentivadores de meu ofício de escritor, a partir de textos humorísticos cometidos por mim sobre nossos dramas, temas e dilemas escolares.
No Eleonora, fiz história, como esse pessoal aí da foto. Lá sou feliz, embora conviva com o drama social sem retoques do meu Brasil. Agora, seria ainda mais culpado se não fizer nada para mudá-lo. Guardo com ternura muitas das carinhas e pessoas sofridas que passaram por mim, esperando não ter passado por elas em vão.
Saudades. No Belo Horizonte de tantas histórias não tem a minha, pois a fiz e a deixei no Eleonora.Pra sempre. Beijos a todos.
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