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Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Maltratado de teologia

Existem as ciências exatas, as inexatas, também chamadas de humanas, e as biológicas, que têm um pouquinho de exatas e um tantão de humanas.

Aquelas do meio, as humanas, desconfio de que não sejam exatamente ciências. Parto de um pressuposto: ciência é somente aquilo que pode ser contestado pela própria ciência, empiricamente, sem muito subjetivismo. A história, por exemplo, foi escrita, quase sempre, pelos vencedores, está embriagada de ideologia, daí por que suspeito da pouca cientificidade de seu estudo, conquanto fascinante.

Algumas ciências humanas tendem mais para o científico, justamente por terem componentes das exatas, como é o caso da geografia. Outras tendem mais para a caixinha de surpresas, como é o caso do direito, em que, além da qualidade da legislação, da construção às vezes sofismática da jurisprudência, do bom senso do julgador, estamos à mercê de sua falibilidade. Isso para não falar da retidão de seu caráter.

Entre as ciências inexatas, destaca-se a teologia, por seu maior grau de inexatidão. Seu objeto de estudo é simplesmente o Insondável, o Excelso, o Todo-Poderoso.

Uma das discussões mais efervescentes da teologia moderna é a possibilidade de Aquele que tudo pode às vezes abrir mão de Seu poder, permitindo-se, nesse particular, a condição humana, como na encarnação do Verbo. Quem pode o mais pode o menos, diz uma máxima das ciências jurídicas. Poderia, talvez, aplicar-se à teologia. Podendo fazer cessar o vento, sossegar as ondas e deter o sol, Ele também pode (por que não?) não cessá-lo, permitir que elas se agigantem e dar às coisas seu curso normal.

Diante das grandes tragédias humanas, sobretudo as naturais, surgiu uma corrente teológica, fadada à eterna contestação e à permanente correção de rota, a defender que Deus é soberano inclusive para ser diferente das concepções do fundamentalismo.

Um quê de suposta simpatia por alguns pressupostos dessa corrente valeram o rótulo de herege e causaram sérios transtornos à caminhada de pensadores cristãos admiráveis e de trajetória consistente e coerente, como Ricardo Gondim. Afinal, a um pensador cristão tudo é permitido, menos avorar-se a pensar.

No entanto, Jesus Cristo, o Emanuel, o Salvador, dá margem à suposição de que nem tudo acontece de acordo com a divina vontade:

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados, quantas vezes eu quis reunir os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintinhos debaixo das asas, mas tu não quiseste!” (Evangelho de São Lucas, 13:34)

Portanto, não é heresia entender assim: Ele quer coisas que não acontecem. Pode, também, não querer coisas que acontecem, como Sua rejeição pelos judeus.

Minha contribuição ao debate teológico fica por aqui. Tenho consciência de que os teólogos – a maioria deles –, de fato, não creem que o Senhor pode tudo. Tudo, tudo mesmo, inclui não ter que adequar-se a nossa vã filosofia ou às nossas frágeis convicções teológicas.

Nas considerações finais, registro que Ele quis me criar, mandou Seu Filho a este mundo para me salvar e quer relacionar-me comigo como Pai, apesar de minha tendência a filho pródigo. Ele, muitíssimo acima das religiões, ainda faz festa quando me prostro a Seus pés, peço perdão, invoco Sua presença de amor, cuidado e misericórdia. Hoje, especificamente, vou pedir que Ele me livre de mim mesmo, de que este meu coração desprezível e ignorante governe minha vida. E me livre, também, de qualquer teologia (seja fundamentalista ou heterodoxa) que questione o direito de Ele ser quem é.

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