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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Quase um dependente químico

Dia desses descobri, tardiamente, que o deserto do Saara tem praticamente a mesma área do Brasil. É claro que isso não interessa absolutamente nada e a ninguém. É, literalmente, muita areia para o meu caminhãozinho. No entanto, robustece meu estoque de cultura inútil, cultivado desde priscas eras, quando eu era um assíduo telespectador do programa Seu saber é pra valer, da TV Itacolomi.

Descubro também recentemente que Giovanna, minha filha, segue o mesmo caminho: vejo-a, com frequência, agarrada ao Guia dos curiosos, de Marcelo Duarte, um dos melhores livros de minha modestíssima biblioteca. A mocinha ainda aprecia, amiúde, programas do Discovery Channel e do NetGeo, o que a credencia igualmente a aspirar ao diploma de conhecimentos gerais que persigo na vida. Isso porque, além de eu saber – a duras penas – de quase tudo um pouco (e quase tudo mal), formei-me em Letras e frequentei alguns semestres de Direito, Economia e Geografia. E não foi diagnosticado em mim nenhum desvio comportamental significativo. Será que a medicina está tão evoluída mesmo?

Noves-fora alguma excentricidade, nós, os adeptos da cultura inútil, desconfiamos de que ela possa ter mais serventia que a própria cultura proveitosa. Até porque nunca apliquei, em nenhuma situação prática da vida, a fórmula da energia cinética: metade do produto massa x velocidade ao quadrado. Desconfiados, portanto, da pouca utilidade dos livros didáticos, costumamos contar, na cabeceira, com atrações bem mais instigantes: Almanaque Abril, Dicionário Universal de Citações, de Paulo Rónai, e alguns exemplares da revista Superinteressante, bastante folheados e mal e porcamente lidos.

Há uma característica a nos distinguir do restante da humanidade: quanto mais irrelevante for o assunto, mais nos desperta a curiosidade. Irrelevante, no entanto, não quer dizer idiota, pois o verdadeiro inutilculto não curte muito Big Brother, dia-a-dia de celebridades nem atrações do Faustão. A cultura inútil, por ser cultura, é uma coisa de alto nível; e, por ser inútil, é tão dispensável e tão saborosa quanto uma Coca-Cola bem gelada, porém sem calorias. Tudo de bom!

Ultimamente, no entanto, venho me culpando por não estar assim tão a par das coisas. Tentam me fazer parecer um ignorante uns países esquisitos, tipo Eritreia, Palau, Quirguistão, Myanma, Moldávia, Tuvalu e Tonga, mais conhecida como Tonga da Mironga do Cabuletê. Foi até título daquela música de Vinicius de Moraes. Há poucos anos, eu não dava a mínima notícia de que existiam essas lonjuras. E olhem que, nos meus áureos tempos, já soube a capital de cerca de 2/3 das nações da Terra. Inclusive Tegucigalpa.

Portanto, preciso voltar a estudar amenidades, a começar pelo nome das capitais das “descobertas” acima. Onde já se viu um praticante da cultura inútil, quase-geógrafo, não saber que a sede do governo de Tonga é Nuku’alofa? Tão inadmissível quanto não conhecer o Guia dos curiosos. O qual, aliás, não empresto, pois me é difícil sobreviver mais de duas dezenas de horas sem ele. O curioso inveterado, confesso, é quase um dependente químico.

Por falar nisso, qual seria o cúmulo da curiosidade? Seria covardia dizer que é aquilo que vou lhes contar amanhã. Poupar-lhes-ei de uma noite mal-dormida. Na verdade, é olhar pelo buraco da fechadura de uma porta de vidro totalmente transparente. De preferência em Nuku’alofa. Onde será que é isso, minha gente? Acho que não tem no Guia...

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