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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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domingo, 12 de dezembro de 2010

A panamenha

Ela veio do hemisfério norte, mais precisamente de terras panamenhas, para não ser minha. Ainda que o Renato insistisse, eu sabia que era muita areia para o meu caminhãozinho.

Devo confessar, no entanto, que me senti envaidecido de ela vir na minha direção. Fiquei com ela por vários meses, talvez um ano. Ela, todavia, permaneceu virgem, apesar do charme. Quando pintava um clima mais quente (e ela adorava o calorão...), eu ligava o ventilador.

Ela gostava de dinheiro. É o mal do gênero feminino. Gostava de roupas de grife, de muitos cartões de crédito, essas coisas. Mas eu dei pouca bola pra ela. De vez em quando uma olhadinha, uma risada, mas não passava disso. Foi difícil, porque era bonita, tinha nome francês e vocação para a nobreza.

Veio, no entanto, parar nas mãos respeitosas de um plebeu. Por um equívoco aqui não descrito para não expor pessoas da mais alta importância e respeitabilidade. Meu único pecado foi não tê-la devolvido ao legítimo dono. Perdoável, no entanto, pois o Renato garantiu que era minha.

Minha esposa soube do caso. E sempre desconfiava de que eu tivesse uma queda por pretinhas. Mas não a ponto de esconder uma em casa. Quando descobriu, colocou-a pra fora. Assim, na lata, como se a intrusa não tivesse nenhum valor.

É... mas parece que de fato não tinha. Ela, que parecia tão difícil, viajada, sofisticada, pelo que soube foi parar nas mãos de quem ofereceu, talvez, algumas moedas mais graúdas ou – quem sabe? – um par de notas velhas e surradas. Em troca de um prazer fugaz. Quem a levou, por um átimo, sentiu-se mais bonito, mais poderoso. Porém, provavelmente vai dar a ela uma vida proletária, de cartão da BHTrans e de ticket-alimentação.

Isso eu acho que ela não aguenta, minha gente. Que destino cruel! Se eu souber que está nessa pindaíba, sou capaz de rastrear seus passos, reavê-la, nem que seja na força. E viajar juntinho com ela para sua terra de origem.

Mas nada de romance. Essa história já causou muitos constrangimentos. A estrangeira errante não merece um tostão furado. Chegando ao destino, simularei sua queda, por acidente, no canal do Panamá. A não ser que ela nade, o que seria um milagre mais extraordinário que a conversa do Pato do Ronaldo, nunca mais andará por esse mundo, oferecendo-se para um Pedro e deixando outro a ver navios. Tudo por culpa do Renato.

(Obs.: cuidado para não destruir minha reputação: papel aceita tudo; e não é nada disso que vocês estão pensando...)

VEJA A FOTO DA PANAMENHA:

http://6arroba.blogspot.com/2010/12/foto.html

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