Explico: em seu livro Infância, o grande escritor alagoano registra, com ênfase, o ditado: “Fala pouco e bem. Terte-ão por alguém”. Morria de curiosidade de conhecer aquele tal de ‘Tertião’...
A mesóclise, à semelhança do Senado Federal, já prestou grandes serviços aos brasileiros. No entanto, a população percebeu ser perfeitamente possível viver sem ela. A excentricidade respira por aparelhos – assim como o coronelismo ainda não extirpado de Brasília –, partindo ao meio verbos no futuro simples e no futuro do pretérito e colocando pronomes pessoais do caso oblíquo em suas entranhas.
Tanto é que chiquezas como “ser-lhe-ei fiel” e “poder-se-ia fazer” tornam-se incomuns até em concurso público, essa instituição que, ao contrário de avaliar nosso potencial e habilidades, mede com absoluta precisão aquilo que NÃO sabemos.
A propósito, saibam os concurseiros, curiosos, estudiosos e congêneres: a tendência do português tupiniquim é abandonar a mesóclise e tornar a ênclise rara. Professor ranzinza vai ter de engolir o início de redação “Me chamo Pedro”. Isso porque – convenhamos – “Chamo-me Pedro” não rola nem no chatíssimo chá da Academia Brasileira de Letras.
Os doutos leitores perceberam: a coluna, nada heterodoxa, adotou modernosidades linguísticas, talvez em tardio protesto contra o fim do trema. Agora a Sadia fabrica linguiça, a Antártida é povoada de pinguins e até nosso próximo quinquênio ficará desfigurado. Nem o editor de texto se conforma.
Mas nada comparável às absurdidades expressas em placas vistas este ano: uma na BR-101 Sul, divisa Santa Catarina/Paraná, contemplada in loco: “Curvas sinuosas”. Isso mesmo: “Curvas sinuosas”. Uma amiga iria ao desespero: “Me amarrota que eu tô passada!”. Outra placa foi flagrada por foto e sofrida via internet: “Suco A Flôr de Zíaco”. Um verdadeiro viagra natural. “Flôr” com acento e com inicial maiúscula, para esculhambar ainda mais. Valei-nos, Houaiss!
(artigo publicado no Informativo do SINDOJUS-MG - Sindicato dos Oficiais de Justiça Avaliadores do Estado de Minas Gerais, edição de abril/2011)
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