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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Completitude

"Eu canto porque o instante existe. E a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste. Sou poeta." (Cecília Meireles)

"Porque cantar parece com não morrer, é igual a não se esquecer que a vida é que tem razão." (Ednardo)


Escrevo o que me falta. O que me completa. Escrevo porque alguém vai ler o que somente eu criaria. Pode ser pior que os outros. Pode ser melhor. Mas não pode ser igual. Escrevo para ser diferente.

Escrevo sobre amores, sobre decepções, sobre sonhos, sobre o passado, sobre o que nem chegou a ser. Escrevo para deixar herança. Escrevo para fazer amigos. Escrevo para não morrer.

Escrevo para não deixar o tempo passar – em vão. Escrevo para que as palavras não fiquem ao vento, para que meu coração produza a textura do que lhe vai dentro. Escrevo por amar as palavras, emboras elas (dando uma de difíceis) nem sempre me apareçam belas quando as desejo. Coisas do gênero.

Escrevo para deixar uma obra. Para deixar uma dor. Para deixar muitas dúvidas. E alguma convicção. Para deixar um sentido. Escrevo não para ser lembrado, mas para ser conhecido de todos meu mundo incognoscível.

Pode haver contradição. Escrevo mesmo assim. Pode haver ambiguidade. Ainda bem. Pode haver palavras enigmáticas. Amém!

Meu tema é o assunto que nunca houve. A antimanchete. Aquilo de que ninguém fala. Sou original, ainda que seja ralo. Minhas palavras calam fundo até na alma de um superficial. Ou principalmente.

Escrevo sobre a vida. Mesmo sobre a que não tive. E não acredito em vidas passadas. Nem nas passadas pra frente. Como um bom e esperançoso cristão, sou um tanto descrente no futuro da humanidade.

Como escritor, talvez eu dê pro gasto. Ou gaste demais o seu tempo escasso. Como professor, atualmente acredito muito mais na falta de educação que na sua presença ou suficiência. O ensino – principalmente de crianças e adolescentes – é o tipo de coisa que todo profissional adora mas daria a vida pra cair fora. Se é pra ouvir P, C e VTNC amiúde, muito melhor ser técnico de futebol.

Mas este não é um tratado sobre a desesperança, a sujeira bucal ou a inutilidade. Voltemos ao que tem sabor.

Escrevo porque sou radicalmente otimista quanto ao futuro das letras, dos poemas, das crônicas, dos romances. Eles, com o up grade dos blogs, ainda hão de ter mais prestígio que a gramática nas salas de aula. Acredito até em alguma sobrevida das cartas de amor do passado, guardadas a sete chaves. Os museus as terão. Num papel caprichado, com bordas em flor e intencionalmente manchado. De batom. Até que o batom perca a cor, depois o papel se desintegre, depois as cartas escritas com caneta e emoção desapareçam. Se é que ainda não foram rasgadas. Antes do museu. Triste fim.

Escrevo o que me falta. Como se fosse canto. Estas linhas não me faltam mais. Por hoje, estou completo.

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