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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Papo ruim e demorado


Ouvi de um amigo que algumas pessoas são PRD. Antes que os ministros do Tribunal Superior Eleitoral pulem da cadeira, esclareço: não é mais um partido político. Significa “papo ruim e demorado”. Acomete, pelos meus cálculos, uma em cada cinco pessoas, com predominância de mulheres e maior incidência à medida que a idade vai aumentando. Mas tem muito homem novo contaminado.

São características do PRD, também chamado de loquaz, palrador ou verboso, além de a conversa não ser boa, o assunto ser desinteressante e você ficar olhando pro relógio: primeiramente, o fato de que, quando você pede, inocentemente, pra ele explicar uma coisa, ele explica mesmo, com riqueza de detalhes. Em segundo lugar, ele conta o mesmo fato a você, no período de dois meses, pelo menos nove vezes, sem variar nem um pouco a trama. Em terceiro, o PRD é adepto do autoelogio escancarado, acha-se a oitava maravilha do mundo antigo e desconfia de que, sem ele, a vida na Terra talvez não fosse viável.

De vez em quando, todos podemos desenvolver alguns dos sintomas. Que, por sinal, são sete. Faltam quatro. O PRD, em geral, vê chifre em cabeça de cavalo e, curiosamente, não o vê em cabeça de touro. Sintoma cinco: PRD não gosta de música, nem em volume alto nem em volume baixo, pois a concorrência pode inviabilizar o negócio. Sexta característica: quem é PRD não serve pra entrevistador, por motivos óbvios. Não por falta de esforço, como o Clodovil já demonstrou. Sétima e última: conversando com um PRD, você não consegue falar mais de dezesseis segundos sem ser interrompido.

Fosse eu cientista, psicólogo, médico, psicanalista ou perito em outras artes da mente humana, diria que, quando temos, num período de cem dias, mais de quatro das manifestações acima, somos PRD. Com cinco, PRD júnior; com seis, PRD sênior; e com sete, PRD com todos os opcionais. Com até três, você AINDA não é PRD (lembre-se de que na velhice as probabilidades aumentam) e, com quatro, talvez esteja numa fase que pode durar anos, a de incubação da doença.

Não sou um exemplo de higidez mental nem de saúde vocabular. Reconheço que tenho características peerredistas. Não dou conta de seguir o sábio conselho lido no livro Infância, de Graciliano Ramos: “Fala pouco e bem. Ter-te-ão por alguém”. Como escritor, no entanto, não dou margem a censuras: meus textos são curtos. Antes de o leitor perceber que não está gostando, já acabaram. Às vezes sem mais nem menos.

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