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- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.
Tradução/Translation
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Nova profissão
Eu, que já ameaçava há muito tempo, resolvo virar escritor. E lembro-me de All is fair in love, de Stevie Wonder, em que essa arte aparece linda, poética, sonora, sedutora. Tal qual um bandoneon. Já não me definiria, num cadastro qualquer, como professor ou funcionário público. Profissão: writer, aquela da música, agora a me tocar na voz límpida de Barbra Streisand.
Escritor nas horas vagas, às vezes melhores que as ocupadas e, doravante, talvez mais ocupadas que as ocupadas propriamente ditas. Escritor e tecelão, tecendo o texto letra por letra, riso por riso, sonho por sonho. Profissão: escritor.
Tinha sintomas desde menino, quando cometia minhas primeiras poesias. Aqueles agravaram-se depois: adolesciam paixões e outros versos. E tornaram-se os indícios indisfarçáveis no começo da idade adulta, quando, depois de passar de passagem pela admirada Geografia e pelas Ciências Econômicas, fui desaguar nas Letras: apaixonei-me de novo, inclusive por Teoria da Literatura.
Um dia Márcia decidiu, também, mudar de curso. Eu lhe escrevi um poema. Diziam meus versos de pesar serem preferíveis, às Ciências Contábeis, as incontáveis ciências da emoção. Foi um de meus dias inspirados, triste por perder a colega e feliz porque isso me fez escrever. Dali pra frente suponho que nós dois nunca mais tenhamos sido os mesmos.
Desse marco já se vão anos bastantes. Nos últimos, amigos me estimularam a parar de ensaios e fazer algo definitivo: assumir, palavra da moda das últimas décadas, se é que possa haver moda duradoura. Assumo, portanto, o diagnóstico que se impôs com o tempo, abraço o ofício e seus ossos.
Um desses é dar azo a especulações de desavisados: eu viveria no ócio, não faria nada da vida, a não ser textificar e me dar ao luxo até de inventar palavras, como se não bastassem as existentes antes de eu dar à luz estes parágrafos.
Explico: tenho um hoje de linhas somente sementes. Um futuro incerto, de livros que ainda não há. Do passado bom já não me farto. Não importa. Ou melhor, importa semear. Tudo é legal no trabalho agora professado, nas letras que traço, alinhavo, tempero. E tudo é legal no amor. Está na música de Steve Wonder. Bela, inspiradora e antiga. Um tanto triste também: fala de uma coisa promissora e passional, no entanto sujeita a rompimentos e dissabores. Como a minha nova profissão.
(2006)
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