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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

Tradução/Translation

segunda-feira, 29 de março de 2010

A conversa que não houve


– Papai, por que você fica só escrevendo?

– Porque sou escritor, filha.

– Isso dá dinheiro?

– Para pouquíssimas pessoas, sim. Para a grande maioria, não.

– Você é das pouquíssimas?

– Não.

– Então por que você escreve?

– Para mim, é uma necessidade. Ainda que ninguém me leia. Do mesmo jeito que você faz as suas plantas, minha arquiteta.

– Mas eu posso estudar e virar arquiteta de verdade...

– E eu posso ler, estudar e virar mais escritor ainda. De verdade eu já sou.

– Tem jeito de ser “mais escritor ainda”?

– Eu quis dizer “escrever melhor”, tocar mais a mim mesmo e, se possível, as outras pessoas.

– Papai, quem ainda não tem um livro publicado pode ser considerado, tecnicamente, um escritor?

– Eu considero você uma arquiteta, embora você não tenha ainda, digamos, publicado uma casa. O que vale é o coração, é o sonho...

– A primeira casa que eu projetar de verdade será pra você, papai.

– Você já projetou de verdade. E sei que foi pra mim. Já ganhei meu presente.

– Papai, o que é mais legal na arte de escrever?

– A arte. A arte é o mais legal, inclusive na arquitetura. Você admira Niemeyer não por ele ser um arquiteto, mas por ele ser um artista, um sonhador e fazedor de sonhos.

– Existe “fazedor de sonhos”?

– Se não existisse, eu teria acabado de criar.

– Pode ser que eu esteja viajando na maionese, mas parece que Deus deixou o pedacinho criador dele na gente.

– É, querida. Essa foi uma das grandes bondades do Pai do Céu: através desse pedacinho a gente fica mais perto dos outros pedacinhos dele.

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