– Papai, por que você fica só escrevendo?
– Porque sou escritor, filha.
– Isso dá dinheiro?
– Para pouquíssimas pessoas, sim. Para a grande maioria, não.
– Você é das pouquíssimas?
– Não.
– Então por que você escreve?
– Para mim, é uma necessidade. Ainda que ninguém me leia. Do mesmo jeito que você faz as suas plantas, minha arquiteta.
– Mas eu posso estudar e virar arquiteta de verdade...
– E eu posso ler, estudar e virar mais escritor ainda. De verdade eu já sou.
– Tem jeito de ser “mais escritor ainda”?
– Eu quis dizer “escrever melhor”, tocar mais a mim mesmo e, se possível, as outras pessoas.
– Papai, quem ainda não tem um livro publicado pode ser considerado, tecnicamente, um escritor?
– Eu considero você uma arquiteta, embora você não tenha ainda, digamos, publicado uma casa. O que vale é o coração, é o sonho...
– A primeira casa que eu projetar de verdade será pra você, papai.
– Você já projetou de verdade. E sei que foi pra mim. Já ganhei meu presente.
– Papai, o que é mais legal na arte de escrever?
– A arte. A arte é o mais legal, inclusive na arquitetura. Você admira Niemeyer não por ele ser um arquiteto, mas por ele ser um artista, um sonhador e fazedor de sonhos.
– Existe “fazedor de sonhos”?
– Se não existisse, eu teria acabado de criar.
– Pode ser que eu esteja viajando na maionese, mas parece que Deus deixou o pedacinho criador dele na gente.
– É, querida. Essa foi uma das grandes bondades do Pai do Céu: através desse pedacinho a gente fica mais perto dos outros pedacinhos dele.
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