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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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domingo, 28 de março de 2010

Política da boa vizinhança


Tenho um vizinho escroto. Palavra feia, eu sei, tal qual o órgão do corpo humano respectivo. Mas está à altura de meu vizinho, que não é, por assim dizer, uma pessoa de alto nível. Fazer o quê?, o escroto existe – e, por sinal, é por isso que a espécie sobreviveu.

Parece palavrão para os mais conservadores – minha mãe, por exemplo, horroriza –, mas não é: meu vizinho é, de fato, um saco, o que semântica e anatomicamente dá na mesma.

Não vou falar mal do meu vizinho, até porque, ainda que eu estivesse, de fato, falando, ele parece não ouvir direito. Pelo contrário, além de lhe esconder a identidade, um dos encômios que lhe faço é que Sua Senhoria me faz perceber a beleza da vida: as outras pessoas, quase todas, são diferentes dele! E, enquanto não se disseminar a clonagem humana, a raça estará a salvo de outros indivíduos (!!!) com esse número de série.

Pelos mandamentos bíblicos, devo AMAR meu vizinho, que nem chega a ser inimigo. Mesmo ele sendo escroto, tendo gostos duvidosos e uma voz pouco delicada. Ele tem, também, um fuso horário diferente e uma estranha mania de achar que não tem vizinhos. Na cabeça dele, ele mora na roça, a quilômetros da civilização. O pior é que, embora isso não esteja muito longe da verdade, existem outras cabeças por perto.

Eu moro no melhor lugar do mundo, com vista para a cidade, mesmo tendo o vizinho que tenho. Ou justamente por ter o vizinho que tenho. Minha casa fica ainda mais especial por saber que ele está do lado de fora. E ele – por incrível que pareça – valoriza, comparativamente, o restante da vizinhança.

Last but not least, vamos a suas qualidades, que são inúmeras: tem nome de santo, não é atleticano, adora um churrasco, não gosta de cerveja quente, tem um montão de amigos que não moram perto dele, aparece poucas vezes na cobertura de sua residência e fala poucos palavrões enquanto fuma. E a melhor delas: por ser escroto, eu não preciso dar bola pra ele.

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