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Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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terça-feira, 13 de abril de 2010

Ascensoristas, pânico e curiosidade

Maria Teresa, amiga e companheira de trabalho, ótima observadora que é, disse-me que escrever um livro na perspectiva de uma ascensorista deveria ser muito legal.

Enquanto ela não se anima a levar a cabo o desafio, eu pego emprestada a ideia (agora sem acento) e me arrisco nestas mal-traçadas. Começo registrando o óbvio: vida de ascensorista não deve ser fácil.

Primeiro porque esse negócio de subir e descer na vida a todo momento não é confortável. Em segundo lugar porque ascensorista é igual a trocador de ônibus – só está ali para dar informações (que, por sinal, poderiam ser obtidas por outro meio) e não precisamos dele(a) para o negócio funcionar. Nos coletivos, há o cartão eletrônico; nos elevadores, os botões para a gente ir ao andar que quiser e o telefone de contato – ainda bem que os do elevador, bem como todos os outros, são de contato! – para quando a gente parar de ir ou voltar.

Falando em parar de ir, o terceiro ponto negativo da atividade de que trata esta crônica merece um parágrafo à parte: pensando melhor, a ascensorista está ali também para não deixar a gente entrar em pânico quando o elevador não mais nos eleva nem nos rebaixa. Morrendo de medo, ela tem que manter a calma própria e a alheia. Um ótimo consolo, nessa hora, seria: “Calma, gente, que eu nunca ouvi falar de ninguém morrer por causa de elevador parado. O ruim é quando despenca”.

Aliás, este texto – repito, ideia da Teresa – existe justamente por causa do “ouvi falar”: a ascensorista ouve falar de tudo pela metade, eis o quarto e último grande senão do digno ofício, afora o salário modesto: bem na hora de saber com qual oferecida do prédio o mauricinho ficou no fim-de-semana, o sujeito desce com seu confidente público. Depois ele volta, mas aí o papo já é futebol e... justo no momento de soltar o resultado do jogo do Galo, que acabou à meia-noite, o infeliz desce de novo. Valei-nos, Itatiaia!

Tem mais: quando a ascensorista ouve falar, finalmente, daquele assunto que gerou o maior tititi, um efêmero passageiro (desculpem-me pela redundância) diz “acho que foi o... aquele tal de...”. Pimba! Desce a fonte da informação e lá se vai a notícia – e olhe que ele nem tinha certeza, só achava.

E o suposto poodle novo de alguém:

– Achei ele lindo...

– Já deu muitas voltinhas?

– Sim. Não dá vontade de parar.

– É estrangeiro mesmo?

– É. Eu sou uma gata agora muito bem acompanhada.

– Ai, que tudo!

– A peruada olha mesmo, né?

– E, se bobear, quer até passar a mão...

Chegou o andar das maritacas. O último. Até que deu pra conversar muito, mas lá se vai o âmago: será que é de bicho mesmo que elas falavam? Pode ser também de um namorado, de um carro de parar o trânsito etc. Este autor, apesar do palpite inicial, não tem a menor noção. A ascensorista muito menos. Cabe à Teresa explicar por que nos deixou nessa curiosidade toda.

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