Enquanto ela não se anima a levar a cabo o desafio, eu pego emprestada a ideia (agora sem acento) e me arrisco nestas mal-traçadas. Começo registrando o óbvio: vida de ascensorista não deve ser fácil.
Primeiro porque esse negócio de subir e descer na vida a todo momento não é confortável. Em segundo lugar porque ascensorista é igual a trocador de ônibus – só está ali para dar informações (que, por sinal, poderiam ser obtidas por outro meio) e não precisamos dele(a) para o negócio funcionar. Nos coletivos, há o cartão eletrônico; nos elevadores, os botões para a gente ir ao andar que quiser e o telefone de contato – ainda bem que os do elevador, bem como todos os outros, são de contato! – para quando a gente parar de ir ou voltar.
Falando em parar de ir, o terceiro ponto negativo da atividade de que trata esta crônica merece um parágrafo à parte: pensando melhor, a ascensorista está ali também para não deixar a gente entrar em pânico quando o elevador não mais nos eleva nem nos rebaixa. Morrendo de medo, ela tem que manter a calma própria e a alheia. Um ótimo consolo, nessa hora, seria: “Calma, gente, que eu nunca ouvi falar de ninguém morrer por causa de elevador parado. O ruim é quando despenca”.
Aliás, este texto – repito, ideia da Teresa – existe justamente por causa do “ouvi falar”: a ascensorista ouve falar de tudo pela metade, eis o quarto e último grande senão do digno ofício, afora o salário modesto: bem na hora de saber com qual oferecida do prédio o mauricinho ficou no fim-de-semana, o sujeito desce com seu confidente público. Depois ele volta, mas aí o papo já é futebol e... justo no momento de soltar o resultado do jogo do Galo, que acabou à meia-noite, o infeliz desce de novo. Valei-nos, Itatiaia!
Tem mais: quando a ascensorista ouve falar, finalmente, daquele assunto que gerou o maior tititi, um efêmero passageiro (desculpem-me pela redundância) diz “acho que foi o... aquele tal de...”. Pimba! Desce a fonte da informação e lá se vai a notícia – e olhe que ele nem tinha certeza, só achava.
E o suposto poodle novo de alguém:
– Achei ele lindo...
– Já deu muitas voltinhas?
– Sim. Não dá vontade de parar.
– É estrangeiro mesmo?
– É. Eu sou uma gata agora muito bem acompanhada.
– Ai, que tudo!
– A peruada olha mesmo, né?
– E, se bobear, quer até passar a mão...
Chegou o andar das maritacas. O último. Até que deu pra conversar muito, mas lá se vai o âmago: será que é de bicho mesmo que elas falavam? Pode ser também de um namorado, de um carro de parar o trânsito etc. Este autor, apesar do palpite inicial, não tem a menor noção. A ascensorista muito menos. Cabe à Teresa explicar por que nos deixou nessa curiosidade toda.
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