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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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terça-feira, 13 de abril de 2010

Divino retorno no tempo


“Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a Dios
Eso es lo que siento yo en este instante fecundo”

Divino, dono de uma das boas locadoras de BH, pergunta-me se gostaria de voltar aos dezessete anos, após falarmos sobre um bom filme da estante. Ele, quase sempre compenetrado, sem verborragias, sorri, nostálgico, e adianta que sim, no seu caso. Emenda com algo mais ou menos nestes termos:

– Foi a época da minha primeira dança. Eu queria voltar se fosse no meu tempo, lá em Guanhães, não nesse mundo de hoje.

Eu fico na dúvida. Apesar dos arroubos que de vez em quando tenho de me afundar no túnel do tempo, não demonstrei a mesma convicção.

Lá se vão trinta anos dos meus dezessete. Perdi o corpo magro, a disposição para uma corrida, um apaixonado futebol aos sábados, uma viagem qualquer sem temores. Perdi o coração que batia mais rápido e disparava à toa, a qualquer olhar feminino. Hoje tenho um, por sinal o mesmo, que se acelera pouco e, além disso, vai reduzindo, ano a ano, os batimentos normais por minutos cada vez mais escassos.

Aos dezessete (idade a lembrar a moça do eterno hit Dancing Queen), eu era apenas um rapaz sem futuro, na visão de uma candidata a sogra. Hoje não sou mais rapaz e também não devo ter tanto futuro assim. Pode ser que o futuro que tive, contrariando as profecias, já tenha passado. Isso me levaria ao extremo de ter perdido, nesta altura do campeonato, meu pretérito e meu porvir. Não deve ser assim tão chata a idade média.

Algo, no entanto, eu queria ter dos dezessete: os cabelos, que só me foram generosos na infância, na adolescência e no começo da idade adulta. Generosos é maneira de dizer, pois eram, de fato, rebeldes, talvez mais que eu.

Mas não fui um rebelde sem causa: no meu tempo, como diria o Divino, estava tudo errado no mundo, inclusive eu.

O mais errado era a vida estudantil: eu cursava Eletrônica, exatamente a única coisa de que NÃO gostava.

Um de meus muitos sonhos era sair do famigerado Banco Nacional, onde sofria de onze e meia às cinco e meia, antes de sofrer à noite na Escola Técnica. Sofria, também, com uma série de amores que, assim como eu, eram ainda somente projeto.

Por essas e outras, Divino, não quero os dezessete de volta, apesar da bela música de Violeta Parra. Apenas, da flor da idade, reivindico de volta – em vão meus cabelos fartos e meu peso moderado, talvez uns setenta e sete. E fico, contente, por aqui mesmo, ao lado das três mulheres herdadas da madurez, caminhando sem pressa para os cinquentinha.

E chega de tantos números, pois a vida é emoção, hoje mais serena do que naquela lonjura no tempo.

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