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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Professor nota mil

Sempre quis ser professor. Era um sonho. De Geografia. Português foi um acidente, embora de bons resultados.

Gosto, porém, de tudo. Menos de Química. Por falar nisso, agora dou aula de everything num projeto da Prefeitura de BH, em parceria com a Fundação Roberto Marinho. E descobri, há poucos dias, em uma de minhas pesquisas e explanações sobre tudo, que o sódio, quem diria?, é um metal (!!!).

É claro que para mim – e para os demais desavisados – metal era somente alumínio, lata, panela, cano de descarga de carro, faca etc. Mas está cheio de etc. na tabela periódica. Alguns totalmente insuspeitos, como o sódio. Isso sem falar naquele gênero musical em que os caras ficam balançando a cabeça pra ver se o cérebro pega no tranco. Só combina com cabeludo.

Sendo um professor de tudo (e sabendo pouco mais que nada), alguns poderiam pensar que realizei por completo meu projeto de vida. Ledo engano.

Explico: todo idiota, ao pensar em ser professor, parte do pressuposto ainda mais idiota de que as pessoas querem aprender. Meus alunos, por exemplo, me adoram, mas vivem torcendo – e talvez até rezando – para eu não ir, para eu arranjar algum problema, para eles não terem aula. Imaginem se me detestassem.

Isso é, até certo ponto, compreensível: todo mundo já achou maravilhosos aqueles dias em que acabou a luz ou a água na escola, a galera foi dispensada e saiu em júbilo. Mas, quando tinha aula (99% dos dias), eu, por exemplo, gostava de aprender, o que não ocorre mais hoje: neguinho (e branquinho também) leva celular, MP4, radinho, ordem do juiz para ficar na escola ou voltar pra Febem*, fica rabiscando no caderno com aquela caligrafia de pichador, conversa sem parar etc. – principalmente o etc. E, mesmo enchendo o saco o tempo todo, tem que ganhar pinguinho na chamada, senão a bolsa-escola vai pro brejo.

Resumindo: agora que sou professor de tudo, os alunos não querem nada. Aliás, isso não é de hoje. E ainda tem gente que supõe valer a pena quebrar a cabeça pra explicar a diferença entre complemento nominal, objeto direto e adjunto adnominal. Ou fazê-los decorar a capital dos quatro países nórdicos: Copenhagen, Estocolmo, Helsinque e Oslo. Isso nunca fez a menor falta pra ninguém. Quantos já perderam pontos em provas por terem se esquecido de Plutão enquanto (!!!) planeta. Agora, que não é mais, os pontos serão devolvidos? O pobre do Plutão foi pra série B do sistema solar, parece que não volta nunca mais e deve estar "pluto" com sua sina.

Mas o grande lance de ser professor é desenvolver o desapego, o jeito franciscano de (sobre)viver. O Governo do Estado de Minas Gerais, orgulhoso de supostamente ter feito uma das melhores gestões públicas dos últimos tempos, tem a coragem de pagar menos de mil reais a um profissional da educação com curso superior. Assim, o sujeito, além de mestre, às vezes especialista em generalidades como eu, tem que incluir entre esses múltiplos conhecimentos a mágica: fazer o salário durar mais de dez dias. E, ainda, “seduzir” o aluno, que, como já se viu, não quer nada, a não ser “zuá o prantão”, como alguns dizem.

Para quem não é do ramo, esse tal de seduzir, ao contrário da belíssima música de Djavan, é uma invenção horrorosa dos doutos em educação que abominam estar em sala de aula com gente mal-educada: você deve fazer de tudo pra fazer o sujeito querer. Ganhando mil. Mas não insista muito, senão ele te manda pra...

*****

P.S.1: Detesto palavrão: não falo e não gosto de ouvir. Mas sou professor. Além de droga, bagunça, indiferença e cola, é isso que rola.

P.S.2: No meu tempo, a gente era chamado de estudante. Hoje só se fala aluno, por motivos óbvios.

(*) Será que ainda existe Febem?

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