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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

Tradução/Translation

sábado, 8 de maio de 2010

Sobre orações, preces e rezas

Lembro-me de uma prece de meu falecido tio Maurílio, que era padre, à hora das refeições:

“Senhor, dai pão a quem tem fome; e fome de ti a quem tem pão”.

Era assim mesmo: sucinta, simbólica, solidária, bíblica e bela
, apesar do pequeno tropeço na formação do imperativo.

A maioria dos evangélicos insistem em que oração mesmo, da boa, não pode ser decorada como aquela. Chamam-na de “reza”, em contraposição à conversa com Deus que só eles saberiam manter.


Então, o ranking, por presumido grau de espiritualidade, seria assim: em primeiro lugar, oração; em segundo lugar, prece (essa palavrinha bonita é pouco usada, mas não execrada, pelos crentes); e, na lanterninha, reza, quase um privilégio – ou um erro, conforme o ponto de vista – dos católicos.

Não é preciso teologar muito para chegar à conclusão pouco brilhante de que nossas orações, mesmo supostamente espontâneas e originais, podem se tornar rezas, se é que lhes cabe mesmo o nome de menos prestígio. E uma suposta reza pode ser uma oração, se recitada com fé, humildade, motivação correta, coração contrito e discernimento. E, sobretudo, em nome de Jesus, pois ele – e não nós – é que tem méritos diante do Pai.

O Mestre, cujas preces conhecidas são notáveis e deram um resultado extraordinário – a cristandade espalhada pelo mundo, a salvação dos que creem no seu nome e a divisão da história entre antes e depois dele –, advertiu-nos para que, na comunicação com o Todo-Poderoso, não chovêssemos no molhado:

“E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, pelo muito falar, serão ouvidos”.
(Evangelho de São Mateus, capítulo 6, versículo 7)

Na verdade, se prosseguirmos na leitura daquele texto bíblico, veremos que as repetições condenadas são somente as vãs. Creio que não podem ser assim rotuladas as de meu tio
uma apenas a cada refeição , pelo poder de síntese, de reflexão e por seu caráter inculcador. E podem, salvo melhor juízo, as dez de padre Marcelo Rossi no Terço Bizantino, que mais parece uma carimbagem oral. Veremos, também, que oração, ou prece, ou reza (no bom sentido...) é externar o que está dentro do coração. O Senhor já o conhece bem, sabe de nossas necessidades ou se nossa gratidão, nossa adoração e nosso louvor são sinceros. Ou, ainda, se o que recitamos vem somente da boca ou de nosso interior.

Ricardo Gondim, no artigo “Repensando a fé”, arremata bem o assunto:

“Orar de olhos fechados, debulhar terços em rezas, pedir ajoelhado... clamar aos gritos, nenhuma dessas expressões religiosas significa devoção, se contempla que outros mortais, que não fizerem o mesmo, não alcançarão. Considero-as puro clientelismo, vãs repetições, murros em ponta de faca, mistura de ilusão com esperança.”

Que Nosso Senhor Jesus tenha misericórdia de nós e permita-nos, acima das discussões semânticas ou de tribos eclesiásticas, cultivar de fato um relacionamento com o Deus de amor e a fome do Cristo, Pão da Vida, e de suas palavras que são ponte, e não muro.

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