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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sexta-feira, 4 de junho de 2010

All night long


Um meio-feriado, um frio meio preguiçoso, eu me acostumando ao apartamento parecido em que me instalei do outro lado do prédio. Mais alto, porém. Subi na vida.

Começa uma dessas noites em que o melhor programa é fazer nada. E nada fazer bem devagar, para que a noite dure muito. Melhor nem dormir, aproveitar mais.

Escrevo. Depois de um recesso de letras, enquanto se ajeitavam as tralhas e o coração, reencontro-me comigo, sentindo de novo a dor e a delícia caetânica de ser o que sou.

Nem sempre gosto de mim. Sou, em algumas coisas, perfeito demais, se é que isso existe. E, em outras, uma overdose de imperfeição, no limiar do patológico. Arrisco-me a coar o mosquito e engolir o camelo, fazendo exatamente o que meu Mestre censurava.

Aqui, onde às vezes me escondo da cidade sob a janela em que agora se arquitetam encontros e se sofrem despedidas, sonho em cruzar o oceano, pousar na terra de minhas origens e terminar o livro já meio sem destino.

“Vou andar, vou voar / Pra ver o mundo / Nem que eu bebesse o mar / Encheria o que eu tenho de fundo”

Aqui, gostaria de ter o poder de síntese de Djavan e o lirismo de Mário Pederneiras. Gostaria de produzir o som da gaita ora triste ora arrebatadora de Bob Dylan. Pista vazia esperando aviões, como canta Vander Lee, pode ser que, de repente, eu me torne um frenético aeroporto de Congonhas. Meio Ferreira Gullar, também tenho uma parte ninguém e outro pedaço todo mundo.

Escrevo. Doido pra ler Cecília Meireles, pra recitar Florbela Espanca, pra me embriagar de Fernando Pessoa, pra remover a pedra no caminho minha e de Drummond. E termino rápido, pois a noite já começa e me prometi o ócio. E nele (ou nela) me encharco, ao som de Ivan Lins, na voz de Paula Santoro. É daí pra cima. All night long.

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