Nesta Copa do Mundo, meu país grande e bobo para tudo para ver os milionários comandados pelo tosco Dunga. A memória me leva de volta a 1970, quando meu pai soltou os primeiros e únicos foguetes de que me lembro lá em casa:
“Noventa milhões em ação,
Pra frente, Brasil
Do meu coração.
Todos juntos vamos
Pra frente, Brasil!
Salve a Seleção!
De repente é aquela corrente pra frente,
Parece que todo o Brasil deu a mão,
Todos ligados na mesma emoção:
Tudo é um só coração.
Todos juntos vamos
Pra frente Brasil, Brasil!
Salve a Seleção!"
Hoje somos o dobro de pessoas, não existe mais o ufanismo forçado de milicos em desvio de função. E a Seleção há muito não é mais genuinamente brasileira: quase todos os “craques” vivem fora do país. Mas a babaquice popular é bem semelhante: um patriotismo efêmero e idiota, bandeiras que não se veem nas ruas nos dias em que, de fato, construímos um país a escapar – pelas mãos de um operário – da lama social, embora com o custo do assistencialismo barato e de uma política mais suja que pau de galinheiro, como diria Ciro Gomes.
Já torci, com mais intensidade, para o fracasso nacional na Copa. No entanto, a França pós-Platini e pós-Zidane não merece a minha taquicardia. Fico somente com a Argentina, nação com a qual, por razões que a própria razão desconhece, meu coração se identifica. Não consigo entender esse clima de hostilidade em relação aos hermanos. É verdade que Maradona é um tanto prepotente, mas há que se dar um desconto. Afinal, ele foi tão bom quanto Pelé e poderia ter sido melhor, não fossem a cocaína e a falta de juízo. Qual das duas veio primeiro é um mistério do tamanho da gênese do ovo e da galinha. De se registrar, porém, que talvez nenhum outro tenha conquistado uma Copa praticamente sozinho, como ele fez em 1986.
Quanto à Alemanha, na segunda partida se viu que não passa de uma Alemanha, embora isso não seja pouco. A simpática África do Sul, coitada, deve colocar suas vuvuzelas no fundo do baú poucos dias depois de nos dar alguma esperança com o primeiro e um dos mais belos gols da competição. Até o manjadíssimo Parreira, desta vez, me pareceu mais palatável.
E a vida segue, Galvão não cala a boca, Cid Moreira está mais ridículo que o modelito do nosso treinador na estreia, o Ipatinga é melhor que a Coreia do Norte, coadjuvante daquele aperto produzido pela nossa ruindade inicial. E Kaká pode não ser assim muuuuuito mais que um bom menino. Podemos – ou melhor, eles podem – até ganhar. Já me conformo com a possibilidade. Aliás, Jorginho e grande parte de nossos atletas merecem. Mas, cá entre nós, o time reserva de 1970 era bem melhor. Ou ainda: mesmo o decadente Atlético Mineiro ou o insosso Cruzeiro – e, quiçá, até o emergente Ameriquinha –, dos quais o inexplicavelmente selecionado Josué teria dificuldades para ser titular, fariam papel melhor.
Resumindo: é muito barulho por nada.
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