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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sábado, 18 de setembro de 2010

Obviedades quase geniais

Sou um reles escritor da série B, mas percebo que, matutando acerca de assuntos passíveis de habitar estas mal-traçadas, chego às raias da filosofia mais pura. Inútil filosofia, é verdade. Filosofia de mercado, não resta dúvida. No entanto, filosofia.

Por exemplo, dia desses ocorreu-me uma ideia original, conquanto óbvia. Se não fosse minha, seria genial: os carros dos outros têm que ser bonitos por fora; os nossos, somente por dentro. Isso porque, como já se sabe, passamos muito mais tempo olhando os nossos carros – e a nós mesmos – por dentro. E o dos outros – e a eles mesmos – por fora. Na próxima compra do novo carro novo, pense nisso. Economizará pelo menos 15%.

A outra coisa óbvia porém pouco explicitada no pensamento é que, via de regra, estuda-se Direito para conhecer melhor as leis e a melhor maneira de distorcê-las. Os advogados brilhantes, em geral, são aqueles a manter os piores bandidos – sobretudo os do colarinho branco – a salvo do xilindró, os piores sonegadores como se fossem vítimas do Fisco e os piores políticos, com ficha mais suja que pau de galinheiro, vivendo felizes por aí, como se nada tivesse acontecido.

Há outra tese, ainda sem comprovação científica, mas bastante crível. É sobre treinadores de futebol, desses bacanas, consagrados, com salários de dezenas (ou até centenas) de milhares de reais. Enquanto o sofrido torcedor se contorce na arquibancada, muitos deles, ladinos, torcem – no fundo, no fundo – para o seu time afundar. Isso mesmo, perder. Pela sétima vez consecutiva. Assim, são dispensados, recebem a gorda multa contratual e, no mais tardar, um mês depois estão em outro time grande. Também como se nada tivesse acontecido.

Finalmente, a mais óbvia de todas: se o sujeito está fazendo carreira como vereador ou deputado estadual, no quarto, quinto ou sexto mandato, desconfie de seus propósitos. Ou descobriu ser a boquinha muito boa, com trabalho, quando há, somente de terça a quinta; ou está levando algum por fora; ou arrumou emprego fácil para boa parte da parentada; ou não presta para nada mais útil, como, por exemplo, professor ou motorista de táxi, que ralam o décuplo e ganham, em média, um décimo. Alguns defenderiam a possibilidade de uma letra E: nenhuma das alternativas anteriores. Pena que ande sumida das questões de múltipla escolha.

Portanto, viva o carro bom e feio. Viva o advogado que não dá nó em pingo d’água. Viva o técnico humilde, genérico, dos times das séries C e D. Viva quem quer servir ao país, e não se locupletar rápida e absurdamente do erário. E, last but not least, vivam os escritores da segunda divisão e o América Mineiro!

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