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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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domingo, 3 de outubro de 2010

Carta aberta a Patrus Ananias

Caro Patrus,

Essa derrota é sua. Toda sua. Não é uma derrota qualquer. Foi retumbante. Como nunca antes na história deste país, o Partido dos Trabalhadores teve uma oportunidade real de chegar ao Governo de Minas. Mas você – grande liderança ética e social, uma reserva moral da carcomida política brasileira – aceitou esse papel reles, discrepante de sua trajetória exemplar: avalista do enrolado, fisiológico e camaleônico PMDB.

Lamento, inclusive por supor custar-lhe muito, além desse constrangimento recente, participar de um governo suspeitíssimo, para dizer o mínimo. Sei da limpeza de suas mãos, ao contrário da de muitos de seus correligionários. Sei que você luta por uma causa das mais nobres: erradicar a miséria, distribuir minimamente a riqueza gerada por todos. Sei que o movem os ideais cristãos, as utopias que nos são caras, o sonho de uma sociedade fraterna e igualitátia. Por isso me decepcionei tanto com o fato de você aceitar ser coadjuvante de uma figura de expressão menor na política mineira, de uma agremiação oportunista e sem a identificação social que você construiu.

Meus companheiros professores da PBH, em grande parte, têm uma certa mágoa de você como nosso patrão. Foi, curiosamente, na sua época de Prefeito que os salários da categoria começaram a se aviltar. Hoje chegam a um inicial de cerca de 3 salários mínimos. O ocupante de sua cadeira parece achar bom. E até muito. Mas isso, conquanto doloroso, é até explicável: a rede municipal de ensino, naquela época, expandiu-se muito, houve grande investimento na área social e nossa cidade começou uma série de administrações sintonizadas com o interesse popular. Apesar de algumas falácias, como a Escola Plural.

Quero sair do corporativismo e voltar à política maior para frisar que a decepção com você não é por causa de meu contracheque modestíssimo nem por crianças que mal escrevem e mal leem no quarto ou quinto anos do ensino fundamental. Até porque nisso também temos, os professores, grande responsabilidade. É porque espero de você, na qualidade de meu líder – e não na de patrão – um papel altaneiro, independente, com coerência, à altura de nossas esperanças para o Brasil. Afinal, é bom que fique claro: o PMDB é aliado ou inimigo de um país para todos?

Porém, não o exponho à execração. Ao contrário, continuo admirando o conjunto de sua obra, a grandeza de seu caráter, seu papel fundamental na politização do povo da cidade que amamos. A luta continua! Importa, no entanto, lutá-la com os aliados certos, e não dar munição a lideranças já merecidamente fortes, a consolidar-se ainda mais, inclusive no plano nacional.

Uma das muitas demonstrações de minha admiração foi levar a meus alunos seu belíssimo texto Adeus e adeuses, publicado no Estado de Minas de 20 de fevereiro de 2003. Nele você, de certa forma, se despedia para assumir o mandato de deputado federal conquistado com votação extraordinária e consagradora. Naquelas linhas de memórias, inspiração e lirismo, há o registro: "Muitos de nós ajudamos a construir o mais ousado projeto político-partidário da história do Brasil: o Partido dos Trabalhadores". É o mesmo partido que agora se agiganta na estrutura e se apequena na conduta, dando a mão a qualquer um e adotando o perverso pragmatismo: os fins justificam os meios. Será esse o único caminho?

A história, no entanto, dará outras voltas. E você, tenho certeza, manter-se-á do lado do bem.

É o que me cumpre desabafar.

Respeitosamente,

Pedro Jorge Fonseca

(em 3 de outubro de 2010)

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