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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Meu apoio constrangido

Nunca antes na história deste país foi tão difícil votar. De um lado, a elitista oligarquia tucana, aliada ao DEM, a uma TFP requentada, ao terror religioso e à máxima justoveríssima: “o povo que se exploda”. De outro, Dilma, mais sem sal que macarrão da Santa Casa, o assistencialismo barato do PT, ao lado de Sarneys, Collors, Newtões e o que há de pior na política tupiniquim.

Lembrei-me de um segundo turno aqui de Minas, em que cumpria escolher entre Hélio Costa e Hélio Garcia. Não hesitei: cravei no “menos pior”, Garcia, sem o menor entusiasmo e com um cheirinho de aguardente. Como desta vez.

Na última para presidente, fugi da raia: não votei em Lula, não votei em Alckmin, não votei em Nossa Senhora de Fátima, bairro de Sabará onde fui me fazer ausente, ou, na linguagem popular, “justificar o voto”.

Desta vez, porém, não fugirei do dilema. Resolvi: é Dilma, apesar de, pessoa a pessoa, currículo por currículo, eu preferir Serra. Os petelhos são chatos, pretensos donos da verdade, arrogantes, enrolados, mas deram mais resultado. Houve uma distribuição de renda em oito anos, conquanto via mecanismos questionáveis, que nenhum cidadão de bem pode desprezar. Vejam onde fomos parar: um voto fisiológico.

Benefícios haverá para o país, mas os efeitos colaterais serão terríveis: Lula vai ter, pela enésima vez, a confirmação de ser “o cara”. No entanto, seu maior legado foi fazer aquela mentira deslavada de que todos os políticos são iguais virar uma quase-verdade. Quando veio a público, há cerca de 5 anos, que os companheiros destinavam recheadas malas de dinheiro para comprar a direita, o meio de campo, a esquerda e quiçá até o juiz, ele disse não saber de nada. Mas a população minimamente esclarecida sabia: ao lado de sua sala, o grande mentor de seu reinado – e do que virá – tocava a política brasileira com requintes de safadeza de fazer inveja a mafiosos profissionais.

Além disso, Lulinha (não por acaso) virou bilionário, houve os impensáveis dólares genitais, bancos lucram 30% ao ano – rentabilidade talvez superior à da maconha irrigada –, aconteceu um apoio oficial repugnante ao enroladíssimo Renan Calheiros e ao eterno coronel chapa-branca José Sarney, dois dos maiores inimigos da esquerda brasileira no tempo em que tinha vergonha na cara. Isso sem falar nas Erenices da vida.

Tem mais: Lula era contra a reeleição. Até que chegou a vez dele. Passou a ser a favor. Vai entrar para a história como o pai dos pobres e o namorado da contradição.

O PSDB, coitado, conseguiu ser pior: a mesma corrupção no relacionamento com o Congresso, o mesmo favorecimento aos amigos, a mesma receita econômica – mas com resultados piores –, a mesma estirpe de líderes no Parlamento, banqueiros menos satisfeitos e o povão sem a esmola nossa de cada dia. Para ser vice de seu cacique, escolhe um Índio. Deu sopa pro azar. E, cá entre nós, votar em tucano somente porque a empregada doméstica (de quem ainda tem) ficou muito mais cara é quase uma picaretagem. Afinal, o país é para todos ou não?

Concluindo: aquele que chorou quando Lula perdeu, em 1989, agora vota na sua candidata quase chorando de constrangimento. Mandando a ideologia às favas. Ou querendo uma pra viver, como cantava Cazuza. Com a ressalva de que meus heróis não morreram de overdose. Eu é que morro de vergonha deles. Mas decido: não irei a Nossa Senhora de Fátima. Viva 2014!

(*) CNI = Confederação Nacional da Indústria

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