Se vida de mestre não é mole, educar menino pequeno é quase uma impossibilidade. Esta semana experimentei, na condição de teacher para iniciantes, por exemplo, a resposta “mais eu tô sem dente”. Acho que foi desse baixinho aí da esquerda. Isso logo após eu dizer que, para produzir o som de TH no idioma de Shakespeare, era necessário colocar a língua entre os dentes. Fiquei absolutamente sem possibilidade de reação. Knockout!
Tem mais: a cada oito segundos, os meninos perguntam se é pra copiar; a cada quarenta e três, falam que o coleguinha tentou bater neles; a cada minuto e meio, pedem pra beber água; a cada três minutos, pra ir ao banheiro. Umas duas ou três vezes a cada aula, CADA UM DELES pergunta pelas horas. Isso sem falar na falação, na levantação da carteira a todo instante, na enrolação, na levação de brinquedos pra sala de aula etc. – principalmente o etc.
Pode ser que as palavras “levantação” e “levação” não existam. Uma das vantagens de ser escritor é poder inventá-las. Lecionando apenas, nem isso a gente poderia fazer.
Lembram-se? O Serra disse sonhar com duas professoras em cada sala de alfabetização, exatamente na faixa etária em que pelejo nas últimas semanas. Deveria ser uma pra dar aula e outra pra jogar água fria na galera. O salário, obviamente, dividir-se-ia por dois: tucano não dá ponto sem nó.
Por certo há menino e menina que são uma gracinha. Mimos. Dá vontade de levar pra casa. Mas... nessa idade, se não aprontam na escola matutina é porque estão ainda meio sonolentos. Devem ser canguruzinhos berrantes com pilha Duracell à tarde. Melhor deixar pra lá.
O interessante na minha profissão é a multidão de gente a se apresentar para esse ofício. Quando tem concurso, dá mais de um candidato por vaga. Incrível! Há mais obstinados no planeta do que supõe a nossa vã filosofia.
Ah! Eu, que achava a Escola Municipal Prof.ª Eleonora Pieruccetti difícil..., era feliz e não sabia. Lá, à noite, os carinhas dão trabalho, mas, pelo menos, não vão todo dia. A sexta é liberada e às quintas o público já diminui.
Finalmente, se alguém ainda não desconfiou, vou explicitar: isso aqui é apenas uma brincadeira. Ser professor é um prazer. Adoro crianças. Elas também me curtem. Mas tenho uma impressão: as pequenininhas, nas salas de aula das semimadrugadas em que debuto, não me darão muito sossego nem pronunciarão anything nessa fase banguela.
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