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Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sexta-feira, 25 de março de 2011

Cacá, Marajá e o "quem viver verá"

Fiz uma breve visita ao futuro e descobri: passadas a Copa do Mundo de 2014 e a de 2018, essa última vencida pela primeira vez por um time africano, Belo Horizonte continuava sem metrô. Com uma diferença, no entanto: o dobro de carros em relação a 2011. Muito mais veículos por habitante que o índice registrado na Califórnia.

Por causa da invasão dos chineses, que já detinham 45% do mercado, um Uno básico, do modelo novo, continuava custando os mesmos R$ 25 a R$ 27 mil de sete anos atrás. Mas, tendo em vista a baixa da taxa de juros, podia ser parcelado em 60 parcelas de R$ 590,00, sem entrada. Exatamente meio salário mínimo por mês.

O Brasil passara, em 2017, a ser a quinta economia mundial. Não se encontrava empregada doméstica por menos de R$ 2.500,00 mensais. Algumas ainda exigiam vaga na garagem: não queriam deixar seus Unos, novinhos em folha, na rua.

Aconteceu, então, o impensável: os bacanas da região da Pampulha e do Belvedere, cansados de ficar uma hora ou uma hora e meia em seus jipões da Toyota ou da Hyundai no trajeto de casa ao Centro ou à Savassi, pararam, pela quinta semana consecutiva, a Avenida Afonso Pena, em plena hora do rush. Era mais um protesto, liderado por um famoso cirurgião plástico apelidado de Marajá. Sua exigência era nada menos que o término das obras do metrô Pampulha – Centro – Savassi – Belvedere.

Entrevistada sobre o transtorno causado pelos endinheirados, Cacilda Aparecida dos Santos, faxineira diarista, abaixou o vidro de seu carrinho chinês, desligou o ar condicionado e não perdoou:

- Vou processá-los por danos materiais e morais. Minha faxina é cobrada por hora e, se chego uma hora atrasada, são R$ 25,00 a menos. E onde fica meu direito de ir e vir?

De fato, Cacá, como era chamada a diarista, ganhava cerca de R$ 180,00 a R$ 200,00 por dia. Aproximadamente R$ 4.000,00 por mês, quase sete salários mínimos da época. Era conhecidíssima, quase uma celebridade, líder de sua classe em extinção. Recentemente – após cinco meses de greve dos professores – o prefeito de BH sancionara a chamada “Lei Cacá”, através da qual os educadores, depois de três anos com essa reivindicação, tiveram seus salários equiparados ao ganho médio das faxineiras na capital.

Quanto à linha de metrô pretendida pela burguesia, o governador, após os protestos, garantiu:

- Estará funcionando integralmente, no máximo, até 2020.

Então tá. Sossega, Marajá! Resta saber se Cacá, bonita, 1,75m, 29 anos, curso superior completo, inglês fluente, apenas 3 meses de habilitação, vai querer trocar seu charme ao volante pela companhia dos patrões naquela lata de sardinha.

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