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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

As lojinhas do Boulevard

Observei, há muito tempo, que o Boulevard Arrudas, em Belo Horizonte, deu outra cara àquele pedaço outrora gris do centro da cidade. Talvez até mais pelo nome, pois boulevard é chique “no úrrrtimu”, como se diz em Pitangui.

Notei também a existência de lojas pouco convencionais numa grande e insuspeita galeria dali, bem próxima à Praça da Estação. Refiro-me especificamente a três estabelecimentos contíguos, que reparei dia desses através da janela pouco assuntosa de meu lotação 9801, a ligar uma a outra periferia da cidade.

O primeiro é um sex shop não escondido. Ao contrário, está de frente para a muvuca, cheio de amor pra vender. Apesar de vivermos em tempos modernosos, não considero isso um comércio normal. Como é que neguinho – e branquinho também –, de TODOS os sexos (!!!), tem coragem de sair com aqueles “trem” na mão, ainda mais agora, sem sacola plástica?

A segunda das lojas geminadas vende cabelo. Deu uma vontade louca de entrar. Será que implanta também? Haveria cabelo de segunda linha, compatível com o meu? Quanto será cada fio? Mais curtinho é mais barato? Divide no cartão? Quantos anos eu ficaria mais jovem?

Pensando bem, melhor parar de lucubrações, senão esquento muito a cabeça de curiosidade e perco o restinho que tenho.

A terceira e última loja, colada nas outras, é o ainda não famoso brechó “só não vende a mãe”. Isso mesmo: “só não vende a mãe”! Ainda bem que ali trabalha gente direita. Dizem ser esta a única diferença entre alguns comerciantes picaretas do Oriente Médio: os de uma certa nacionalidade vendem a mãe e a entregam, enquanto outros – ainda mais “capetalistas” – só a vendem.

Maldades à parte, nunca fui a um brechó nem aos outros tipos de loja aqui mencionados. Mas acho que deve ser legal. Já ouvi sobre ofertas de blazers importados, de grife e fina estirpe, por cinquenta reais. Tá barato pra caramba! Para as mulheres, calças da Vide Bula por trinta a quarenta pilas, algumas com direito àqueles condenáveis buraquinhos. Eles estão na moda desde as invenções dos igualmente condenáveis sex shops e dos traficantes de cabelos.

Como se vê, nos textos e em muitas coisas na vida, tudo tem ligação uma coisa com a outra. Principalmente nas três lojinhas parede-meia do Boulevard.

2 comentários:

  1. Pedro, como sempre adoro seus textos.
    Divertidíssimo esse.
    Obrigada, por nos proporcionar o prazer de ler o que vc escreve. Espero que não nos prive nunca desse privilégio.
    Abraços
    Rose

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