Um dia Diego teve de escrever uma redação com o tema “As cores das flores”. Não cedeu à tentação de dizer “não posso”. Foi tentar vê-las, mesmo que isso parecesse impossível. Seus olhos súplices se mexiam ainda mais, curiosos, quando um coleguinha lhe enumerava algumas cores.
Bonito, mas ele nem sabia exatamente o que era cor. Foi pesquisar no Google, com recursos tecnológicos especiais para sua deficiência. A definição, no entanto, descoloriu e confundiu sua cabeça.
Um dia, porém, num campo arborizado e bonito, parece ter “ouvido” uma cor no canto de um pássaro. Foi para a máquina azul que escrevia em braille:
“As flores são de cor passarinho. E existem muitas cores de flores. Por isso há tantos passarinhos, porque existe um passarinho para que cada flor tenha a sua cor”.
Ah! E quando a mãe lhe “mostrava”, num livro em alto relevo, algumas flores e bichos, ele se deliciava em tocá-los, mesmo artificiais.
Diego, com o coração, aprendeu sobre cores e flores. Nós, bem menos sensíveis, às vezes mal desconfiávamos de que o Criador pudesse ter, de fato, sonhado no mesmo sonho com jardinagem, tintas e aves cantadeiras.
Não por acaso é raro admirarmos, detidamente, uma flor, sentirmos sua textura, seu aroma ou oferecermos – ainda que aquela simplória, do mato – sua cor a alguém.
É melhor mesmo a Espanha deixar Diego com as crianças “normais”. Não será ele, por certo, o maior beneficiado.
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