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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sexta-feira, 3 de junho de 2011

"Los colores de las flores"


Diego não enxergava a vida como nós. Talvez a visse até mais bela, ouvindo com mais atenção as histórias dos colegas, as músicas ou o bramido do mar. Quem sabe sentindo melhor o cheiro do mato depois da chuva; e o da mexerica, depois de posta à mão. Ou tocando e sendo tocado com afagos e risos. Ou, ainda, degustando um morango, que nos parece menos saboroso justamente por ser tão formoso.

Um dia Diego teve de escrever uma redação com o tema “As cores das flores”. Não cedeu à tentação de dizer “não posso”. Foi tentar vê-las, mesmo que isso parecesse impossível. Seus olhos súplices se mexiam ainda mais, curiosos, quando um coleguinha lhe enumerava algumas cores.

Bonito, mas ele nem sabia exatamente o que era cor. Foi pesquisar no Google, com recursos tecnológicos especiais para sua deficiência. A definição, no entanto, descoloriu e confundiu sua cabeça.

Um dia, porém, num campo arborizado e bonito, parece ter “ouvido” uma cor no canto de um pássaro. Foi para a máquina azul que escrevia em braille:

“As flores são de cor passarinho. E existem muitas cores de flores. Por isso há tantos passarinhos, porque existe um passarinho para que cada flor tenha a sua cor”.

Ah! E quando a mãe lhe “mostrava”, num livro em alto relevo, algumas flores e bichos, ele se deliciava em tocá-los, mesmo artificiais.

Diego, com o coração, aprendeu sobre cores e flores. Nós, bem menos sensíveis, às vezes mal desconfiávamos de que o Criador pudesse ter, de fato, sonhado no mesmo sonho com jardinagem, tintas e aves cantadeiras.

Não por acaso é raro admirarmos, detidamente, uma flor, sentirmos sua textura, seu aroma ou oferecermos – ainda que aquela simplória, do mato – sua cor a alguém.

É melhor mesmo a Espanha deixar Diego com as crianças “normais”. Não será ele, por certo, o maior beneficiado.

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