Para os curiosos, adianto: tem o fundo escuro, azul petróleo. O rosto, delicado, terno e um pouco distante, é setenta por cento iluminado; e os cabelos, cem por cento rebeldes e fartos. É desse tipo, aliás, que sinto falta: rebeldes e fartos. Ao contrário dos meus, comportados e faltos.
O retrato olha para mim como se tivesse vida ele própria. A mão segura um pedaço de colar e o queixo, como se ele – o do retrato – pudesse cair.
O retrato tem um lado obscuro, mas quem é que não tem? O retrato pode até conter cento e setenta por cento de mistério, mas quem disse ser a arte uma ciência exata?
O retrato, por outro lado, pode desvendar muito. Sabe-se lá qual é a leitura que se faz de uma imagem ou de um texto?
Os olhos são brasileiramente castanhos; e a pulseira, bem colorida, do tamanho da beleza do retrato. E faz muitas curvas, como o cabelo. O restante eu não revelo, pois, entre outras coisas, estamos na era da fotografia digital.
Quem tiver a ventura de ver o retrato verá também: ele merece muito mais que estas mal-flashadas linhas. Fazer o quê?
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