Texto, se alguém ainda não sabe, é tecido. Deve ser emendado, costurado, recortado e, às vezes, até remendado. Quando ouvimos dizer “indústria têxtil”, não é coincidência.
A grande diferença do texto e do tecido é que aquele primeiro nunca está pronto, totalmente acabado. Como nos lembra Bartolomeu Campos de Queirós, texto a gente não termina – a gente abandona. Se o autor lê pela quadragésima vez, continua a fazer modificações. É melhor abandonar...
Então, primeiramente, para escrever bem é preciso paciência de costureira. O que está na cabeça só fica pronto depois de muito trabalho, de faz e desmancha, de recortes e de anexações. Nem escritor nem costureira podem, de maneira alguma, perder o fio da meada.
Em segundo lugar, sensibilidade, se o autor tem pretensões literárias. Como toda arte, a literatura sobrevive de suspiros, de lágrimas, de queixos caídos, de admiração, de indignação. Também de contemplação, de raiva, de suspense, de questionamentos, de amor, de filosofia, de enxergar com a alma e construir com a mente um outro mundo, seja ele possível ou não.
Terceiro. A gente escreve, em grande parte, inspirado no que leu. Quem lê mais escreve melhor. Ou, pelo menos, tem potencial para escrever melhor. A máxima de Antoine Lavoisier “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” vale também para a literatura. Nossas leituras – as recentes e as mais pretéritas – se transformam em arte (original, com o nosso DNA), se houver autores a nos inspirar, paciência de costureira e sensibilidade. E mais:
Quarto. Para escrever bem é preciso ser observador. Muito observador. Uma crônica é o insosso cotidiano recheado de significância, humanidade e reflexão. Um romance é tanto melhor quanto maior a capacidade de o escritor entrar nos recônditos da alma humana, em toda sua diversidade, complexidade e contradição. Um poema, às vezes, é tirar beleza de onde se supõe não haver. De uma pedra, por exemplo.
Quinto. Dominar as normas da língua culta é fundamental, mas frequentemente é preciso ousar, transgredir, contextualizar, ir além. Como fazia, entre outros gênios, Dias Gomes, principalmente pela boca de Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), o eterno Bem Amado. Finalizo com a lição de José Lins do Rego:
“Os grandes escritores têm a sua língua; os medíocres, a sua gramática”. *
(artigo publicado no Informativo do SINDOJUS-MG - Sindicato dos Oficiais de Justiça Avaliadores do Estado de Minas Gerais, edição de junho/2011)
(*) A constatação acima foi extraída do “Dicionário Universal de Citações”, de Paulo Rónai, Editora Nova Fronteira. Um livro delicioso. Vale a pena adquirir!
Nenhum comentário:
Postar um comentário