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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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sábado, 18 de junho de 2011

Sobre a mineiridade

O mineiro não consegue. O mineiro dá conta. O mineiro não tem sotaque, a não ser que seja de paulista, de carioca ou de baiano. O mineiro não come as palavras. Apenas as emenda, as acelera e corta as beiradas quando não querem se encaixar.

O mineiro, realmente, não perde o trem. Até porque aqui tudo é trem. O mineiro não é desconfiado, só questiona se a presunção constitucional de inocência realmente se aplica a todos.

Aquilo que falam acerca do murismo dos mineiros é pura lenda. Na verdade, o mineiro nunca fica em cima do muro: ele sempre se posiciona a favor de uma parte, no entanto tem a maior simpatia também pela outra.

O mineiro não é mais religioso, só está – do alto de suas montanhas – mais perto do céu. E está próximo das pessoas, pela vocação do Estado de ser centro e de ser caminho. Só não é muito confidente, por razões que a razão não desconhece.

O mineiro tem um defeito: quando você pergunta como ele está, ele explica. Nos mínimos detalhes. Tem que perguntar é “mé que vai?”, como no interior mais bravo de nossa terra:

- Mé que vai, sô?

- Pelejano.

O mineiro adora trabalho, mas tira o chapéu também para a preguiça. O mineiro dá um biscoito para não começar a fofocar sobre a vida alheia – e uma mesa de banquete inteira para não parar.

O mineiro vive guardando dinheiro para quando chegar um imprevisto. Aí, aos oitenta e tantos, vem o previsível, a sua morte. Ele não poderia prever que daria tanta briga.

O mineiro tem uma vocação enorme para ser relevante, para ser ilustre, para ser republicano. E, contraditoriamente, para ser discreto. O mineiro gosta de cantar histórias, contar história e fazer história. Desde os tempos coloniais. Apesar de odiar, historicamente, o pagamento de impostos e de se insurgir contra eles, o mineiro, através de Juscelino, construiu Brasília. E sempre sonha com seus palácios e com sua solidão.

O mineiro, afinal, é um bicho esquisito: nas horas vagas, gosta de trabalhar; nas horas ocupadas, vive suspirando pelas horas vagas. Esse animal sui generis complica as coisas mais simplórias, só para arrumar assunto. E tem o condão de fazer, com pouca complicação, o quase-impossível acontecer.

Movido a pão-de-queijo, paixão, paciência, simplicidade e uma pitada de estranheza, o mineiro sabe que os sonhos e as letras não envelhecem.

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