“O coração tem razões que a própria razão desconhece”, nos lembrou o filósofo, físico, matemático, escritor, teólogo e um tantão de coisas mais Blaise Pascal. A razão desconhece também a gênese ou a explicação de absurdidades que os falantes da língua cometem sem a menor cerimônia – e sem a menor culpa.
Tentarei fugir dos exemplos mais óbvios e escalafobéticos, do tipo “telefone DE CONTATO” e “plus A MAIS”, chamando a atenção para outras maneiras menos toscas de chover no molhado:
- Meu carro tem tanta procura que existe até fila DE ESPERA;
- O treinador do Galo vai manter O MESMO time no próximo confronto;
- Tenho que controlar bem meus níveis de glicemia NO SANGUE;
- Vou fazer um orçamento SEM COMPROMISSO para a construção da piscina.
Se alguém souber de fila que não seja de espera, manutenção que não seja do mesmo, glicemia que não seja no sangue e orçamento que obrigue o consumidor a alguma coisa, por favor, atire-me o primeiro giz.
Atire-o também se for infundada minha estranheza quando perguntam se eu “TRABALHO com cheque”. Digo não. Já fui bancário. Hoje sou, também com muita honra, servidor da Justiça e educador.
Não resta dúvida: professor de português é chato. Que mal haveria numa inocente fila DE ESPERA? Num utilíssimo telefone DE CONTATO? Pior seria um de isolamento. Às vezes, o mestre das letras é até injusto com as pessoas, à semelhança dos construtores de questões para concursos públicos. Neles, reprova-se (sem muito apego à razoabilidade) o camarada que não sabe se “tigela” é com G ou com J. Ou que desconhece o significado de forma arrizotônica (!!!) do verbo. Em 14 anos de Tribunal, eu nunca tive de escrever “tigela”. E é provável que nunca tenha.
Mas há outras questões, fora da gramática, que remanescem inexplicáveis. Uma é a presença de uma enorme TV de plasma (ou de LCD, sei lá) no banheiro masculino do Buffet Catharina, em BH. E o pior: ligada, como instrumento, talvez, de uma tentativa vã de aumentar o tempo de permanência de pessoas do “gênero” masculino na “casinha” (assim eu falava na escola primária).
Pois bem. Enquanto não se explicam os telefones DE CONTATO, outros tropeções linguísticos e o fim do trema, vamos levando nossa lida diária, sem necessidade de escrever, no trabalho, “tigela”, “jiló” ou “mexerica”. Nem de TV no banheiro.
(artigo publicado no Informativo do SINDOJUS-MG - Sindicato dos Oficiais de Justiça Avaliadores do Estado de Minas Gerais, edição de julho/2011)
Tentarei fugir dos exemplos mais óbvios e escalafobéticos, do tipo “telefone DE CONTATO” e “plus A MAIS”, chamando a atenção para outras maneiras menos toscas de chover no molhado:
- Meu carro tem tanta procura que existe até fila DE ESPERA;
- O treinador do Galo vai manter O MESMO time no próximo confronto;
- Tenho que controlar bem meus níveis de glicemia NO SANGUE;
- Vou fazer um orçamento SEM COMPROMISSO para a construção da piscina.
Se alguém souber de fila que não seja de espera, manutenção que não seja do mesmo, glicemia que não seja no sangue e orçamento que obrigue o consumidor a alguma coisa, por favor, atire-me o primeiro giz.
Atire-o também se for infundada minha estranheza quando perguntam se eu “TRABALHO com cheque”. Digo não. Já fui bancário. Hoje sou, também com muita honra, servidor da Justiça e educador.
Não resta dúvida: professor de português é chato. Que mal haveria numa inocente fila DE ESPERA? Num utilíssimo telefone DE CONTATO? Pior seria um de isolamento. Às vezes, o mestre das letras é até injusto com as pessoas, à semelhança dos construtores de questões para concursos públicos. Neles, reprova-se (sem muito apego à razoabilidade) o camarada que não sabe se “tigela” é com G ou com J. Ou que desconhece o significado de forma arrizotônica (!!!) do verbo. Em 14 anos de Tribunal, eu nunca tive de escrever “tigela”. E é provável que nunca tenha.
Mas há outras questões, fora da gramática, que remanescem inexplicáveis. Uma é a presença de uma enorme TV de plasma (ou de LCD, sei lá) no banheiro masculino do Buffet Catharina, em BH. E o pior: ligada, como instrumento, talvez, de uma tentativa vã de aumentar o tempo de permanência de pessoas do “gênero” masculino na “casinha” (assim eu falava na escola primária).
Pois bem. Enquanto não se explicam os telefones DE CONTATO, outros tropeções linguísticos e o fim do trema, vamos levando nossa lida diária, sem necessidade de escrever, no trabalho, “tigela”, “jiló” ou “mexerica”. Nem de TV no banheiro.
(artigo publicado no Informativo do SINDOJUS-MG - Sindicato dos Oficiais de Justiça Avaliadores do Estado de Minas Gerais, edição de julho/2011)
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