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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Tesouro da Juventude


“Vou andar, vou voar,
Pra ver o mundo.
Nem que eu bebesse o mar,
Encheria o que eu tenho de fundo.”
(Djavan)

Hoje toda informação está a um clique, por intermédio do Google. Não há dúvida ou curiosidade que resista a poucos minutos em frente ao computador. Os curiosos crônicos ou duvidosos inveterados (não sei ainda minha classificação) navegamos de braçada.

Quando eu era criança, a curiosidade também tinha remédio, embora não de efeito tão imediato: o Tesouro da Juventude, enciclopédia que resiste ao tempo na casa de minha mãe. Dezoito volumes, em que há preciosidades da história, das ciências e das artes, como o belo soneto Suave Enlevo, de Mário Pederneiras, que sei todo de cor mas dou-lhes o gostinho somente do final:

“(...) Outros que tenham com mais luxo o lar,
Que a mim me basta, Flor, o que aqui tenho:
Árvores, filhos, teu amor e o mar.”


Um de meus passatempos favoritos, mesmo depois de adulto, era e é folhear um dos livros azuis, em busca de textos ou fotos que debelem minha sede nunca saciada de saber. O Tesouro da Juventude explica quase tudo, traz os grandes clássicos da poesia e começou a me fazer um especialista em generalidades: como na música do Kid Abelha, “eu sei de quase tudo um pouco – e quase tudo mal.”

Acho que meu gosto pela Geografia veio, em parte, daquelas páginas antigas, de sua maneira de trazer o vasto mundo para as mãos em que não cabem nem meu destino.

Minhas filhas têm, hoje, seu Tesouro da Juventude na Internet, na TV a cabo ou na escola, em que se ensina um tantão de coisas que não servem para nada. Mas deve ser assim mesmo. Saber que a capital da Islândia é Reykjavik e que a Groenlândia pertence à Dinamarca nunca me teve a menor utilidade, mas tenho maior orgulho dessas informações geladas e supérfluas. No meu velho Tesouro da Juventude, de que tanto gosto, também há amenidades e muitas páginas com registros longe do imprescindível. Aliás, essas são as mais saborosas.

Há muito prazer em aprender, coisa que não consegui transmitir à grande maioria de meus alunos, que certamente não teriam a menor simpatia pelos meus dezoito livros de estimação. Talvez os tesouros de hoje sejam outros e disso não saiba o professor aloprado que fala que aprender tem sabor e é bom, quase tanto quanto beijar, abraçar ou ouvir boa música.

Se eu sobreviver a minha mãe, que cuidou de mim e de uma das pérolas de minha vida, fiquem meus compreensivos e generosos irmãos sabendo que sou candidato a herdar, sozinho, os volumes, em número de dezoito. Dezoito que lembra juventude, juventude que lembra tesouro, tesouro que lembra o valor do saber... Tesouro da Juventude.

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