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Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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domingo, 15 de novembro de 2009

Forever young

"A arte de viver requer sensibilidade transcendental. Contentar-se com os horizontes do mundo material e imanente significa abrir mão da vida eterna. Os seres humanos nasceram com sede pelo que está além do céu, além da última galáxia, além do tempo. Pulsa no coração humano a litania que repete: 'Por que te escondes, Senhor?'. Tudo passa. Todas as emoções perdem o encanto. Todos os prazeres são provisórios, mas a sede pelo divino permanece. Quem beber de um gole d’água da vida, quem receber uma visitação do Espírito e quem ouvir uma só palavra do Cordeiro de Deus, jamais se contentará com o brilho deste mundo". (Ricardo Gondim)


Conheço três belas músicas com o título Forever young: primeiramente, o clássico de Bob Dylan; depois, uma de letra semelhante, de Rod Stewart; last but not least, um sucesso do grupo alemão Alphaville, de meados dos anos 80.

Por outro lado, a palavra everlasting (“o que dura para sempre”), para mim, é uma das mais sonoras do inglês, ao lado de unforgettable. Aquela é o que se poderia chamar de abençoada e “a bem soada” – a que soa bem.

É isso: nada soa tão bem aos nossos ouvidos e corações quanto a eterna juventude. Ou a vitória sobre o tempo que foge, sobre a precariedade humana, sobre nosso legado efêmero.

Não começamos a ficar velhos aos quarenta, aos cinquenta ou aos sessenta, ainda que seja praticamente certo que depois dessas idades inicia para nós o segundo tempo do jogo. Jogo cuja prorrogação ad eternum tanto nos atrai – mas que os cosméticos, a medicina, os sonhos de Highlander e mesmo nossos esforços de espiritualidade não garantem.

O Livro Sagrado registra, em Eclesiastes, que Deus “colocou a eternidade no coração do homem”. Ela não foi invenção (nem reivindicação) nossa. Por isso é tão estranho o fim. Colocou-nos o Criador também a possibilidade de viver e semear apenas para esta vida ou de investir na outra dimensão, no outro lado, no reino que não é deste mundo.

Meu xará, o apóstolo Pedro, era falador, tempestuoso e traiçoeiro, antes de se tornar um dos alicerces do cristianismo. Jesus talvez não esperasse muito dele. Mas um dia Simão surpreendeu, ao ser indagado pelo Mestre se até os mais próximos colaboradores abandonariam o Senhor:

“Para onde iremos? Só tu tens as palavras de vida eterna”.

As religiões institucionalizadas, infelizmente, pregam – cada qual a sua maneira – que a verdade está em seus feudos. Mas Pedro sabia em quem estava a verdade. A verdade que liberta, inclusive de nosso maior drama: a finitude.

Gilberto Gil faz uma genial leitura do tempo, o "responsável" pela constante e eterna mudança de tudo e, presumo, pela nossa constante sede do eterno:

“Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei!
Transformai as velhas formas do viver.
Ensinai-me, ó, Pai, o que eu ainda não sei.
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei (...)”

Considero essa uma das obras-primas da MPB, apesar de ter a convicção de que não se deve, à moda grega, invocar o "Senhor" ou a "Senhora" Tempo, mas sim o Senhor de tudo.

Outra pérola sobre o assunto é de Chico Buarque, na música Almanaque:

“Ó menina, vai ver nesse almanaque
como é que isso tudo começou.
Diz quem é que marcava o tic-tac
e a ampulheta do tempo disparou
(...)
Me responde por favor:
Pra quê tudo começou?
Quando tudo acaba?”

Quem marcava o tic-tac quando a ampulheta do tempo disparou implacavelmente – para nós, não para Ele – é a razão de tudo ter começado. Eu gostaria de dizer isso ao Chico. E somente Ele é capaz de fazer a existência não ter fim. Passemos-lhe a palavra:

"Vocês leem o Livro Sagrado porque confiam que, por meio dele, vão viver para sempre. E porque ele fala a respeito de mim. Mas não querem vir a mim para obter essa vida que procuram”. (Palavras de Jesus, no Evangelho de São João 5:39-40).

Assim, a necessidade de transformação das “velhas formas do viver” cantada pelo bom baiano – mesmo que ele não saiba – é, contraditoriamente, no sentido de que o tempo não reine sobre nós, não seja nosso amo nem nos reduza a algumas poucas décadas. Para que possamos, ainda que provisoriamente com rugas, ser de fato jovens para sempre – inspirados nas músicas (por que não?) e no belíssimo capítulo 40 do livro do profeta Isaías. Ou, pelo menos, se já não nos sentimos assim tão preservados dos anos, para saber que tudo não acaba.

Finalmente, convém reler, já com dois ou três minutos a menos desta vida fugaz, a bela citação inicial deste texto e pensar – de novo – na pergunta que o apóstolo Pedro elaborou e cuja resposta começou a construir:

"Para onde iremos?"

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