Hoje

Hoje, nada fale, só me ame.
Só me chame o silêncio, o olhar,
Para me veres triste, sem exame,
Sem remédio e sem perguntar.

Que o ontem não nos visite,
Que amanhã seja um talvez.
Permitas-me ainda um palpite:
De manhã, outra face, outra tez.

Hoje quero ouvir Jota Quest,
Ainda que não a aches tão boa,
Mas é bem provável que preste
Qualquer música, diria Pessoa.

Hoje assim lembra Taiguara,
Na velha canção bela e triste.
Hoje minha emoção se compara
Com algo que ainda não viste.

Hoje até os verbos eu mudo
Muitos e te chamo de ti.
Permaneço calado, contudo,
Assim soa melhor, que já li.

Soa no silêncio hoje fundo
Certo de o quebrar o amor:
Meu jeito de só meu mundo
Cederá ao teu jeito de flor.

Pressa! Hoje passe breve.
Que eu logo me livre de mim.
E em ti me veja mais leve,
Rimando meu não com teu sim.