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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

Tradução/Translation

sábado, 5 de dezembro de 2009

Dos lugares em que não estive




Vai voando

Contornando a imensa curva norte-sul

Vou com ela viajando

No Havaí, Pequim ou Istambul...” (da música Aquarela, de Toquinho)


É manhã de chuva persistente e preguiçosa em Belo Horizonte, como em quase todos os dezembros. Dá vontade de dormir mais, dá vontade de viajar.

Como a literatura e meu sonho me permitem tudo, retiro-me para Notting Hill, bairro de Londres. Faz frio. Passeio pelas ruas e lembro-me do filme de Roger Mitchell, a melhor comédia romântica de todos os tempos, com fotografia e trilha sonora inesquecíveis. Termina (*) com uma música de Charles Aznavour e Herbert Kretzmer que começa assim:

“She
May be the face I can't forget
The trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay
She
May be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day…”

Depois vou a Ushuaia, Terra do Fogo, antessala do fim do mundo. Está ainda mais frio, cinco graus, embora seja quase verão. Não longe estão as Ilhas Malvinas. Lembro-me da música de Celso Adolfo, que toca meu coração também argentino:

“... Juntaram sua turma e vieram do norte,
Arrumaram um conchavo no mapa o céu.
Fizeram o alinhavo das linhas do mar
E o favo de sangue do sul virou mel.

Que guardas que guardam seu povo, Argentina?
Pegaram sua vida e jogaram no mar.
Jogaram confete, tango e serpentina
E o fel da mentira jogaram no ar.

Amarram as mãos da canção do cantor,
Quebraram o charango, tomaram o tambor.

Adiós, mi amigo argentino, adiós,
A história tem pressa de ser verdadeira.
Alegria! vem costurar sua bandeira.
Meu peito eu te empresto:
Eu te quero bem”.

Sigo do país de Che para Cuba, onde ele fez mais história. Encontro a velha Havana e seus carros da época da Revolução, ainda sobreviventes, como Fidel. Encontro também – e abraço – Pablo Milanés. Ele não canta para mim a mais linda de suas canções, El breve espacio en que no estás, mas outra, alegre, marcante, cheia de amor pela ilha e pelo socialismo:

“Amo esta isla, soy del Caribe!
jamás podría pisar tierra firme,
porque me inhibe.


No me hablen de continente,
que ya se han abarrotado,
usted mira a todos lados,
y lo ve lleno de gente,
no es que tanto me moleste,
pero pocos son de allí,
se fueron de allá, de aquí,
y hoy arrastran esa pena,
de sentirse entre cadenas,
que es lo que me pasa a mí...”

Um voo de Concorde – que nem voa mais e nunca ligou essas duas cidades – leva-me até Montpellier, sul da França, que possui também seu Arco do Triunfo. Um jovem canta para sua amada a bela canção de Joe Dassin. Minha irmã Raquel usou-a para apresentar-me a língua de Proust, pela qual me apaixonei:

“Et si tu n'existais pas
Dis-moi pourquoi j'existerais?
Pour traîner dans un monde sans toi,
Sans espoir et sans regret...
Et si tu n'existais pas
J'essaierais d'inventer l'amour,
Comme un peintre qui voit sous ses doigts
Naître les couleurs du jour
Et qui n'en revient pas…”

“... Se você não existisse, por que eu existiria?... Eu tentaria criar o amor, como um pintor que vê, de seus dedos, nascer as cores do dia”. Assim cantava o rapaz.

Dali vou para Faenza, norte da Itália, cidade com menos de 60 mil habitantes, próxima a Ímola. É a terra natal de Laura Pausini, simpática superstar da música italiana. Eu gostaria de encontrá-la para dizer de minha admiração: é uma estrela simples, talentosa e encantadora. Mas a cidade não a cabe mais. Dá tempo de o rádio do táxi que me leva ao hotel, para onde poderia ir a pé, tocar apenas uma música, também gravada por Laura: La Solitudine, na voz de Renato Russo:

“... Non è possibile dividere la vita di noi due
Ti prego aspettami amore mio, ma illuderti non so!
La solitudine fra noi, questo silenzio dentro me
El'inquietudine di vivere la vita senza te
Ti prego aspettami perché
Non posso stare senza te
Non è possibile dividere la storia di noi due

La solitudine fra noi, questo silenzio dentro me
E l'inquietudine di vivere la vita senza te
Ti prego aspettami perché
Non posso stare senza te
Non è possibile dividere la storia di noi due...”

Existem as línguas de que sei pouco: português, inglês, espanhol e francês. E há as de que nada sei: todas as outras, inclusive italiano. Mas as muitas semelhanças com aquelas me fazem compreender quase tudo.

É preciso prosseguir. Agora o destino é longínquo: a Cabul de Os caçadores de pipas, de Khaled Hosseini. A cidade é rodeada de montanhas, destruição e, para mim, do encanto triste do livro. As músicas não me agradam. O idioma, muito menos. Aqui, eu só queria encontrar os meninos Amir e Hassan, tão fictícios quanto meu giro pelo mundo.

Volto pra casa. Continua chovendo. Ouço o Capital Inicial cantando a música Primeiros erros, de Kiko Zambianki:

"Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde estou
Meu destino não é de ninguém
Eu não deixo os meus passos no chão

Se você não entende, não vê
Se não me vê, não entende
Não procure saber onde estou
Se o meu jeito te surpreende

Se o meu corpo virasse sol
Minha mente virasse sol
Mas, só chove e chove
Chove e chove...

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros

O meu corpo viraria sol
Minha mente viraria
Mas, só chove e chove
Chove e chove..."

Gosto muito disso, apesar de ser uma balada-rock meio maluca. Qualquer coincidência é mera semelhança. Tem tudo a ver com esta minha viagem. Que termina aqui, dentro de mim.


(*) A cena final pode ser vista por este link:

http://www.youtube.com/watch?v=CiAvL2SAwyU

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