E agora, José? Rico, riquíssimo. As coisas materiais – que são muitas – ficam para os legítimos herdeiros. As imateriais, muito melhores, ficam para nós outros, teus admiradores: sabedoria, temor a Deus, bravura, vontade de viver, dignidade, sonhos que não envelhecem.
E agora, José? Se eu achar que um vice não merece sentar em tua cadeira? Se meu povo entender (e ele entende mais que o STF) que um senador ficha podre não deve ocupar a mesma tribuna que ocupaste? Se nunca mais aparecer alguém com uma carinha tão simples e tão boa, mesmo no infortúnio?
E agora, José? Cansaste de driblar a morte? Venceu o tempo da prorrogação que o Supremo Juiz te concedeu? A tua imensa torcida e as orações de milhões não decidem mais o jogo?
E agora, José? Lutaste contra um tipo de câncer, enquanto muitos pelejam a favor de um outro: a corrupção política, a maracutaia, o favorecimento, a roubalheira, a "esperteza", o caixa dois, a propina, o privilégio desarrazoado, a safadeza mais deslavada.
E agora, José? Ex-balconista de loja, construíste um império econômico. Ex-aspirante ao governo de Minas, em 1994 perdeste para duas figuras públicas sem um décimo de tua estatura moral e política. O tempo, no entanto, mostrou-nos quem são os verdadeiros vencedores: os que têm o respeito da população.
E agora, José? Um grande empresário ao lado de um operário pelo sonho de um Brasil melhor. Que bom! Os milhões que saíram da miséria por causa dessa dobradinha quem sabe hoje estreiam um lenço verde no teu adeus.
E agora, José? Não podes ouvir meu aplauso nem sentir minha dor. Tu já tiveste a tua, enorme, quase implacável, persistente, cruel, em vão querendo superar-te.
(*) Ver livro do profeta Isaías, capítulos 38 e 39:
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