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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Fui promovido a escritor de quinta, quinta colocação em minha rua, mas também escrevo às quartas, terças etc.

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segunda-feira, 28 de março de 2011

Pequena antologia de Giovanna

Igual a todos os indivíduos do sexo feminino muito falantes (desculpem a redundância), Giovanna às vezes solta pérolas que podem compor uma antologia. Uma vez, em Campos do Jordão, numa praça decorada com motivos natalinos, o locutor oficial anunciava para o começo da tarde show com músicas de Noel Rosa. Ela somente ouviu e deixou o disparo em stand by.

Algumas horas depois, na viagem de volta, disse que perdemos a apresentação do Papel Noel rosa. Acabara de misturar a velha lenda do bom velhinho do polo norte com um de nossos grandes e antigos compositores populares, formando uma fresca figura no imaginário paternal.

Foi a primeira vez, aos sete anos, digna de aparecer num livro. Poucos meses depois vieram outros vacilos de minha pretinha: estávamos de novo em viagem, em São José dos Campos, e ela se maravilhava com o hotel acima da média: piscina, tudo novinho, cartão magnético para abrir a porta, banheiro e sanitário em ambientes separados, mimos para crianças e um cofre que a fez exclamar: “Nossa! Tem até microondas!”. Meu livro, que se ressentia de um pouco de falta de assunto nas últimas semanas, agradece.

Ao ouvir isso, claro que não perdoei, como seria de se esperar de um pai compreensivo com o pouco tempo de estrada da baixinha. Valorizei devidamente o episódio, disse que iria escrever uma antologia com as mancadas dela. Aí é que a coisa assumiu contornos inacreditáveis: “Pare de me chamar de anta, pai!”. Pode?

Dois dias mais tarde, uma nova recaída me fez supor que os problemas têm a ver com o fato de ela estar em solo paulista. Ao reparar que o nome da irmã, Marina, aparecia bem mais vezes em nomes de estabelecimentos comerciais e de serviços, e provocada por aquela, Giovanna, agora em Caraguatatuba, espetou a mana dizendo ser preferível um nome menos manjado, mais “extinto”, em suas palavras. Na minha tradução livre, suponho que isso possa significar distinto. Donde se conclui que a intenção do vocabulário de Giovanna é razoavelmente rebuscada.

Mais a maior de suas peripécias vocabulares estava por vir, meses depois, em Belo Horizonte mesmo. Visitando amigos, a baixinha vê um forno elétrico embutido na parede, com somente a frente à vista. Já sabendo de sua fama de gafe ambulante, sapecou, com a criatividade de sempre: “Olha! Microondas de plasma!”.

Aí já é demais! Mas os fatos são verídicos. Deles dou fé. Há, inclusive, testemunhas dos mesmos e do quanto a menina é bonita, interessante, esperta, falante, consequentemente mais sujeita a tropeços. Alguns, como esses acima, dignos de registro. Afinal, Papel Noel rosa e microondas de plasma, ainda que somente na imaginação fértil e festiva de Giovanna, não aparecem toda hora.


P.S.: Muito depois deste texto pronto (suponho que ele seja de 2008 ou 2009), Giovanna, aos 12 anos, volta com outra grande pérola: no retorno da escola, final de março de 2011, disse que uma entrevista lida tinha trechos destacados de “granito”. Melhor que se fosse de ardósia ou de uma cerâmica simples...Viva Gigi e Luciana Gimenez!

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